terça-feira, 17 de junho de 2014

ALTERAÇÃO DAS ROCHAS



Do ponto de vista prático, pode afirmar-se que não haveria solo, nem plantas, nem animais, sobre as terras emersas, se não houvesse alteração das rochas.
A alteração das rochas é um dos ramos mais importantes da geologia. Com efeito, a sedimentologia, a geomorfologia, a geologia económica e aplicada, a pedologia, a prospecção geoquímica, a geologia do ambiente, a engenharia, entre outras, fazem constantemente apelo aos conhecimentos relativos a esta parte do ciclo geoquímico da litosfera.
Os conhecimentos de que hoje dispomos, quanto aos processos e produtos de alteração nos diferentes ambientes morfoclimáticos, permite inferir, por idênticos raciocínios, condições geológicas passadas através do estudo dos sedimentos onde tais produtos ficaram arquivados. Os sedimentos não são mais do que depósitos correlativos de determinadas situações geográficas, susceptíveis de guardarem os testemunhos que as permitem reconstituir, preocupação que representa o aspecto mais importante da sedimentologia.
No campo da geologia económica e aplicada, a alteração das rochas tem papel de relevo, por exemplo, na prospecção de matérias-primas argilosas, tão importantes para a indústria cerâmica, entre outras menos visíveis (papel, borracha). O perfeito conhecimento do estado de alteração ou da susceptibilidade de certas rochas usadas como pedra de construção, é outro aspecto do interesse deste ramo das geociências.
As grandes obras de engenharia, como são as construções das barragens, pontes, estradas e, mesmo, as urbanas, não dispensam, para efeito de fundações, o recurso ao conhecimento do tipo e grau de alteração das rochas do substrato. Outro tanto se poderá dizer em relação aos trabalhos de preservação do relevo, no tocante às formas naturais ameaçadas, em que é necessário lutar contra a erosão das terras e o deslize das vertentes.
A hidrogeologia é outro ramo da geologia aplicada que encontra nos fenómenos de meteorização muitas das respostas inerentes aos seus objectivos.
Estamos habituados a considerar as rochas como qualquer coisa de definitivo, mas, na realidade, elas nascem, vivem, envelhecem, degradam-se.... Ao fazer esta afirmação, o geoquímico russo M. Chaskolskaia (1959) põe em evidência a extrema lentidão do processo natural de alteração das rochas, só abarcável na imensidade do tempo geológico.
Mesmo antes da exposição aos agentes externos, na sequência de fenómenos que as fazem ascender e, subsequentemente, aflorar, as rochas geradas em profundidade, ou seja, as rochas endógenas (ígneas e metamórficas) sofrem alteração.

                 Sobre a rocha meteorizada, o solo é o suporte da vegetação, base da cadeia alimentar

Alteração meteórica ou meteorização
Como os nomes indicam, alteração meteórica e meteorização aludem à alteração das rochas provocada pelos agentes meteóricos. Pode dizer-se, ainda, supergénica, na medida em que se processa à superfície do planeta sob a acção da energia solar, e per descensum, uma vez que actua de cima para baixo.
Os nossos irmãos brasileiros introduziram o termo intemperismo como sinónimo de meteorização, termo que tem vindo a ser usado entre nós com frequência crescente.
Um outro conceito alude à desagregação e transformação dos minerais e, consequentemente, das rochas, provocadas pelos agentes atmosféricos, por organismos vivos e pelas águas pluviais na capa mais superficial da crosta emersa. Neste processo, salienta-se a redução do tamanho das partículas resultantes da desagregação, o que lhes proporciona um estado de maior susceptibilidade às citadas transformações, uma vez que aumenta a superfície exposta aos ditos agentes. As referidas transformações têm lugar, não só por efeito da energia solar, mas também da energia interna, própria de cada um dos minerais das rochas, energia esta que se liberta espontaneamente no decurso da decomposição.
A meteorização não é mais do que uma resposta por parte dos minerais das rochas, originalmente em equilíbrio no interior da litosfera, quando expostos à superfície, em contacto com a atmosfera, a hidrosfera e, sobretudo, com a biosfera, processo conhecido por epimorfismo ou epigénese. Sendo a meteorização um processo espontâneo, os produtos resultantes possuem um nível de energia interna inferior à dos que lhes estão na origem.
A meteorização manifesta-se pela desagregação e/ou decomposição das rochas, levadas a cabo pelos agentes externos (físicos, químicos e biológicos), convertendo-as em outros produtos naturais em equilíbrio com as condições termodinâmicas e químicas do meio, que é, afinal, o da superfície subaérea da Terra. Por outras palavras, a meteorização das rochas traduz a sua adaptação a um dado ambiente externo, na interface litosfera-atmosfera-hidrosfera-biosfera.

                                             Galopim de Carvalho