quarta-feira, 24 de julho de 2013

A REPETIÇÃO DE ANO NO PRIMÁRIO


            Foi pedida recentemente, em França, a supressão da repetição de ano ao nível do ensino primário. Esta reivindicação, embora não tivesse sido aceite, é apoiada por trabalhos de diversos especialistas que estão convencidos da inutilidade da repetição de ano.
            Ora, esta repetição, ao nível do ensino primário, enforma de, pelo menos, três equívocos: com o tempo o problema acabará por solucionar-se; o aluno reinicia o estudo das mesmas matérias, com idênticos métodos e nos mesmos tempos; a criança é culpabilizada pelo seu insucesso.
            Fazer repetir um ano a uma criança significa dizer-lhe que ela tem menores capacidades que as outras; é estigmatizá-la e segregá-la; é retirar-lhe confiança em si própria e imprimir-lhe marcas psicológicas que, porventura, irão ficar-lhe pela vida fora.
              Muitos professores, porém, manifestam-se contra a supressão da repetição de ano porque isso induziria, segundo eles, uma dificuldade em fazer trabalhar o aluno. Tal reacção tem subjacente a perda de poder que aparece ao professor como desestabilizadora; o clima de ameaça que impenderia sobre o aluno seria, assim, uma protecção do próprio sistema.
            Mas se a repetição de ano acarreta graves inconvenientes para a criança, a solução será a transição automática? Tal não parece resolver o problema pois isso seria contribuir para a perpetuação do analfabetismo e para o insucesso na vida.
Há, pois, a nível de escola (e do sistema educativo!) que encontrar as soluções que melhor respondam às dificuldades do aluno. E isso passa por se fazer um diagnóstico dessas mesmas dificuldades, tentando, depois, encontrar os meios para recuperar os deficits, dar mais tempo para certas aprendizagens, chamar os pais a colaborar (ou, em casos extremos, procurar os próprios pais), solicitar apoios fora da escola, dentro ou fora do Ministério da Educação...
Enfim, a escola tem um papel crucial, que não é fácil, na recuperação dos alunos em dificuldades. A solução, porém, não pode passar pela repetência pois esta é um instrumento da manutenção das desigualdades sociais mas, acima de tudo, uma violência psicológica em relação à criança.

                                             Mário Freire