A preparação das gerações vindouras, ao longo da História,
foi sempre uma tarefa entregue aos progenitores, familiares próximos ou
autoridades locais, representantes das famílias, tribos ou clãs, utilizando
sempre processos empíricos de transmissão de saberes através da prática
continuada dos trabalhos necessários ao grupo. Os aprendizes, em acção directa
junto dos mestres, iam assim acumulando o seu capital profissional, à medida
que progrediam nos conhecimentos, mais ou menos metodicamente, conforme o rigor
e interesse do mestre, com maior ou menor aplicação do aprendiz, muitas vezes
vítima de insucessos e desistências. Mas era um ensino individualizado, mesmo
em grupo e que ia satisfazendo, ao que parece poder deduzir-se, as necessidades
de autosuficiência da vida em comum, sendo a maioria produtos de natureza
material, embora subsistisse também um pecúlio cultural de cariz espiritual em
transmissão.
O crescimento da população e o aumento das necessidades
humanas, económicas e sociais determinaram novos processos de formação dos
jovens, mais produtivos e eficazes. Não
havia professores ou mestres em quantidade e qualidade para solução de tal
carência. Isto originou o recurso a todos os docentes habilitados, forçando-os
à regência de turmas muito numerosas, por vezes com uma centena de alunos.Não
era possível fazer ensino individualizado, nem o ensino simultâneo poderia
responder, com alguma eficácia, em grupo
de proporções tão grandes.
Daí o recurso a monitores, alunos mais adiantados, que
auxiliavam o mestre no ensino de grupos mais restritos.
Assim
nasceu o método mútuo, que, além de económico, contém uma componente formativa
e humanista de cooperação e
solidariedade.
Eis
a forma como se dispunham os alunos e respectivos monitores numa sala com
capacidade para cem alunos entregues a um só professor, auxiliado por
monitores, normalmemte dez, também alunos mais adiantados nos conhecimentos.
A
figura representa o esquema da planta da Escola de Ensino Normal pelo método de
ensino mútuo de Belém, Lisboa, publicada
por António Nóvoa em Le Temps des Professeurs, vol. !, pag. 428, Instituto
Nacional de Investigação Científica, Lisboa, 1987.
Francisco Goulão