quinta-feira, 1 de setembro de 2011

VIAS DE REALIZAÇÃO

                                          
                                                         Introdução

O simbolismo da via é comum a variadas tradições, tendo sido particularmente veiculado mediante a mitologia, a filosofia, a literatura, a religião e a espiritualidade. Sirvam de exemplo, na cultura ocidental, a Odisseia de Ulisses, a Busca do Graal, na mítica legenda de Parsifal, e a Divina Comédia de Dante. No Cristianismo, a via é personificada na pessoa de Cristo que se apresenta como Caminho, levando os primeiros cristãos a identificarem-se como os Seguidores do Caminho. A Lei islâmica é designada o Shari’ah cuja raiz Sri significa o Caminho. O Sufismo precisa que se trata do Caminho para Deus. É nesta perspectiva que o Islão afirma serem tantas as vias para Deus como os descendentes de Abraão. Com efeito, a Via, no sentido mais radical, não é qualquer coisa, mas sim Alguém.
Na filosofia e misticismo orientais, Confúcio se considera como mensageiro divino de carácter sobre-humano cuja missão é transmitir a Via, pertencendo aliás a todo o ser humano participar nessa missão. O Taoismo é directamente ligado ao Tao, considerado o Princípio universal e mais precisamente a Via ou grande Caminho. Os ensinamentos de Buda preconizam a Via do Meio, a qual evita os extremos, apta a conduzir à Iluminação. Esta via de realização é designada na índia e no Tibete a Anticarana, comparada à caminhada bíblica de Jacob a qual culmina na visão da escada que liga a Terra ao Céu.
No domínio especificamente psicológico, é de notar o carácter existencial da ontopsicologia de Anthony Sutich e particularmente a abordagem psicológica de Roberto Assagioli em que o Eu transpessoal é simultaneamente a via e o agente fundamental da psicossíntese. As sete vias de realização constituem o tema central do seu projectado livro, a ser intitulado Hight Psychology and the Self, jamais escrito, e que viria a ter como tema central as sete vias de realização. Tendo em conta a diversidade tipológica, o conceptualizador da abordagem psicossintética nota que “são múltiplas as vias do espírito, havendo para cada pessoa uma delas, a mais em consonância com a sua constituição, com o seu temperamento e com a sua própria posição existencial.” Há que ter em conta o facto de que a via preferencial não é única e muito menos exclusiva. Trata-se, mais propriamente, não tanto de pistas alternativas, mas de faixas de um mesmo caminho. É nesta perspectiva que, em número septenário, diferentes vias aqui virão a ser especificadas nas suas particularidades e consideradas na sua complementaridade.

                                                                                             João d’Alcor