terça-feira, 13 de setembro de 2011

VIAS DE REALIZAÇÃO - 1

                                                                  
                                                       Via heróica

Designada também “via da vontade” e “via altruísta”, esta via está directamente ligada à mestria de si próprio, muito embora orientada para o bem comum, mormente sob a função psicológica da vontade. Em termos de psicossíntese, pode qualificar-se a via heróica como sendo a integração e consagração da personalidade a nível transpessoal, mediante um processo existencial de conscientização em que se realiza a síntese entre o ser e o agir. Corresponde isto, classicamente, ao mote latino do agere sequitur esse - o agir é precedido do ser - ambos conjugados e idealmente consagrados a uma causa humanitária.
Há que ter em conta tanto as virtualidades como as distorções eventuais no percurso ou, melhor dito, das expressões desta via, como aliás no que diz respeito às demais. O aspecto tenebroso da via heróica é o abuso do poder quer despótico quer exibicionista, em moldes de imposição e quiçá de tirania, em que a vitória sobre si próprio é substituída pelo domínio sobre os demais. Neste caso, o culto da virtude é substituído pelo culto do herói e o servir dá lugar ao servir-se.
O verdadeiro herói não é tanto o que suporta uma grande prova, mas sim o que a supera. Rejeitando o pessimismo envolto num finalismo egoísta, assaz veiculado no pensamento quer de Freud debruçado sobre a sombra do passado, quer de Adler projectado no futuro, Assagioli traz para o presente o exemplo em que “ o amor desinteressado, a compaixão, a abnegação e o espírito de sacrifício existem, em que valores superiores, transpessoais tantas vezes têm impulsionado os homens a concretizar obras notórias alheios a satisfações egoístas de prazer e poder.” Não será de esquecer que, na maioria dos casos, os verdadeiros heróis e heroínas permanecem no desconhecimento, tendo a coragem de ultrapassar amorosamente inúmeras provas do dia a dia.

                                                                 João d’Alcor