domingo, 8 de maio de 2016

POUCO




Pouco é o vento que passa
Pouca é a água do poço.
Certezas?!... Um quase nada.
Falsas, as vozes que oiço.

Pouco é o pão minguado.
Até as nuvens merinas
Parecem cão enxotado.
Amas secas, concubinas.

Pouca palavra bem dita
Muito chão de maldizer.
Poucas, as sopas no caldo
Muitas bocas p´ràs comer.

Escasso sol, pouca estrela
Negra a noite, o dia pardo.
- Ata o sonho à caravela   
Leva o trevo, deixa o cardo!...

Muito “cerol” gafado
Muita aiveca, pouca relha.
Muita intrujice de enfado
Palestra “podre de velha”.

Pouca “prata”, vã riqueza
Negridões a cirandar.
Pouca abundância na mesa
Má fortuna a agourar.

Cada carreiro um barranco
Em cada esquina um ganir.
Noites passadas “em branco”
Sem medrar e sem dormir.

Tudo é “conversa fiada”!...
MUITO é NADA quando há fome.
- Até a hóstia é salgada!...
Morre o longe, em “calquer home”.

Não vá o caldo entornar
Ou a água ficar turva
Mais vale ouvir e calar:
- Muita parra, pouca uva!...

E sem conceitos galantes
Com dizeres de baixo custo
Mais Verdade havia dantes
Mais Honra, o Afeto mais justo.

Este mundo está do avesso
Até mesmo, no olhar.
Só se olha de arremesso
Com óculos escuros a tapar.

Neste mundo aos trambolhões
 Justiça tem “fraca perna”.
Usam binóculo, os vilões
Quem é puro vê de lanterna!...

Aldina Cortes Gaspar 

In”PEDAÇOS”