As relações que
vivemos ao longo da vida vão-nos marcando e moldando a nossa visão do mundo,
vão alterando o nosso modo de pensar e de sentir. Não paramos de sofrer
transformações, nada em nós é imutável. Resta saber se a mudança vai no sentido
de murcharmos cada vez mais ou, pelo contrário, florescermos e sentirmos que
somos cada vez mais felizes, apesar da dor sentida no passado. Dor e prazer,
tristeza e alegria, medo e entusiasmo… são tudo elementos presentes numa
relação íntima. Eliminar o que nos fez sofrer é abdicar do que nos enriqueceu e
fez de nós o que somos hoje.
Quando se tem uma
desilusão amorosa torna-se fácil ver a tristeza no olhar de quem acreditou e,
mais uma vez, sente ter falhado. Acreditámos, entregámo-nos, lutámos,
insistimos até perdermos as forças e admitirmos que toda a energia investida
não passou de uma ilusão. E com a desilusão vem a tristeza, vem o vazio, vem o
sofrimento de mais uma morte. Nada será igual. A nossa planta murchou, não
morreu, mas deixa de viver. Sobrevive no meio do caos da vida. Sobrevive até
encontrar outro alguém que veja a nossa beleza ainda que murcha, que nos regue,
que cuide de nós e nos faça acreditar que temos forças para florescer
novamente. Até voltarmos a perder esse nutrimento e… murcharmos de novo. O ciclo
repete-se. A única forma de proteger e salvaguardar o que ainda resta de nós é
assumir que o único lugar seguro é a solidão e o vazio. Aí já ninguém nos
magoa, estamos a sós connosco próprios. Não vivemos a entusiasmante surpresa da
vida que nos faz tocar nas estrelas, mas também não vivemos a angustiante
imprevisibilidade que nos faz cair a pique. Mas será que uma relação amorosa é
esperar que alguém nos salve, nos nutra, cuide de nós, nos leve às estrelas e
nos largue bem lá de cima?
Dar sentido a cada
experiência vivida, aprender com cada momento de leveza e de tensão, aceder às
dificuldades que existem em nós para cuidarmos delas, potenciar as nossas
forças e voar cada vez mais alto em liberdade, lado a lado com alguém, ou
frente a frente, não será isso muito mais nutridor?
(continua…)
Rossana Appolloni
www.rossana-appolloni.pt