domingo, 14 de fevereiro de 2016

LADO A LADO OU FRENTE A FRENTE (parte I)






As relações que vivemos ao longo da vida vão-nos marcando e moldando a nossa visão do mundo, vão alterando o nosso modo de pensar e de sentir. Não paramos de sofrer transformações, nada em nós é imutável. Resta saber se a mudança vai no sentido de murcharmos cada vez mais ou, pelo contrário, florescermos e sentirmos que somos cada vez mais felizes, apesar da dor sentida no passado. Dor e prazer, tristeza e alegria, medo e entusiasmo… são tudo elementos presentes numa relação íntima. Eliminar o que nos fez sofrer é abdicar do que nos enriqueceu e fez de nós o que somos hoje.
Quando se tem uma desilusão amorosa torna-se fácil ver a tristeza no olhar de quem acreditou e, mais uma vez, sente ter falhado. Acreditámos, entregámo-nos, lutámos, insistimos até perdermos as forças e admitirmos que toda a energia investida não passou de uma ilusão. E com a desilusão vem a tristeza, vem o vazio, vem o sofrimento de mais uma morte. Nada será igual. A nossa planta murchou, não morreu, mas deixa de viver. Sobrevive no meio do caos da vida. Sobrevive até encontrar outro alguém que veja a nossa beleza ainda que murcha, que nos regue, que cuide de nós e nos faça acreditar que temos forças para florescer novamente. Até voltarmos a perder esse nutrimento e… murcharmos de novo. O ciclo repete-se. A única forma de proteger e salvaguardar o que ainda resta de nós é assumir que o único lugar seguro é a solidão e o vazio. Aí já ninguém nos magoa, estamos a sós connosco próprios. Não vivemos a entusiasmante surpresa da vida que nos faz tocar nas estrelas, mas também não vivemos a angustiante imprevisibilidade que nos faz cair a pique. Mas será que uma relação amorosa é esperar que alguém nos salve, nos nutra, cuide de nós, nos leve às estrelas e nos largue bem lá de cima?
Dar sentido a cada experiência vivida, aprender com cada momento de leveza e de tensão, aceder às dificuldades que existem em nós para cuidarmos delas, potenciar as nossas forças e voar cada vez mais alto em liberdade, lado a lado com alguém, ou frente a frente, não será isso muito mais nutridor?
(continua…)


Rossana Appolloni
www.rossana-appolloni.pt