quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A JUSTIÇA NA FAMÍLIA E NA ESCOLA

                             




A justiça é um dos grandes marcos que contribui para a felicidade da humanidade. Se se conseguisse colocar este valor, a par do da paz, como prioritários nos funcionamentos da família e da escola, certamente que teríamos uma sociedade com menos injustiças sociais e mais feliz. A justiça consiste no empenhamento em dar ao próximo aquilo que lhe é devido, isto é, respeitá-lo nos seus direitos e estabelecer com ele relações harmoniosas que promovam a equidade e que contribuam para o bem comum.
Pergunto-me, então: o que é que de injusto pode passar-se, no seio da família, para que os direitos de cada um não sejam respeitados? E que consequências podem daí resultar, quer para cada um dos elementos dessa comunidade básica, quer para a sociedade em geral? Não vou enunciar os múltiplos comportamentos dos membros da família, assumam eles o papel de marido, esposa, pai, mãe, filhos, só para citar a célula familiar restrita, nas suas múltiplas interacções, susceptíveis de gerar injustiças. Desejava, apenas, referir, como casos limite, as consequências que advêm para as crianças que foram abandonadas ou maltratadas, fruto das injustiças e das violências que sobre elas recaíram. E de quantas limitações elas sofrem, seja nas emoções, na inteligência, na vontade e no comportamento! É a agressividade dirigida, quer para os seus pares, quer para os adultos que delas cuidam; é a instabilidade emocional, passando da boa disposição para o mutismo; são as fúrias que, em casos extremos, atingem a tentativa de suicídio. E as dificuldades de aprendizagem que elas manifestam, seja na memorização, seja no cálculo mental, seja na compreensão! Mas, o que mais me impressiona nelas é a sua dificuldade em suportar a frustração. Elas, à mínima contrariedade, desistem, voltam costas, desinteressam-se, indignam-se.
Ora todos estes comportamentos (ou quase todos) e atitudes indesejáveis decorrem daquilo que elas viram e viveram na família. Claro que a escola irá ressentir-se deles. Poderá ela modificar-lhes um pouco este tipo de atitudes? Sim, se ela tiver regras claras e as fizer cumprir; apostar, com todos os elementos que a integram, em relações serenas mas firmes com os alunos, ainda que da parte destes haja agressividade; não deixar que um insucesso escolar se transforme numa barreira intransponível, socorrendo-se, para isso, de directores de turma estimulantes, de psicólogo e assistente social que estabeleçam acções coordenadas quer com o aluno, quer com a família; que utilize metodologias participativas em que o aluno não seja mais do que um mero expectador.
Enfim, muito há a fazer para que na nossa sociedade haja justiça. Mas é na família e na escola que ela começa a ter forma e a poder tornar-se em realidade.


                                                              Mário Freire