sábado, 17 de outubro de 2015

OS PODERES NA FAMÍLIA E NA ESCOLA

                           



Na maior parte das instituições sejam elas a família, a escola, a empresa, existe uma relação de poder entre os elementos que as constituem. Na família essa relação pode assumir várias formas. Se há um poder de um dos elementos do casal que tudo decide, sem fazer participar o outro nas decisões, é natural que essa relação estiole e acabe por morrer. Se o poder do casal se diversifica e se compartilha, então esta união tem melhores condições para se manter e contribuir para a felicidade desse casal.
Há, também, relações de poder entre pais e filhos. Por que razão se diz hoje que muitos pais se demitem da sua função de educadores? Porque sobre eles se exerce um poder – o dos filhos – a que são incapazes de resistir. Para isso, é preciso saber dizer-lhes não. E tal significa que o não, para que possa ter eficácia e não ser mais um elemento perturbador da relação pais-filhos, seja proferido com convicção, com inteligência e com afectividade. Com convicção, de modo que não fiquem quaisquer dúvidas aos filhos de que o que é dito é para ser cumprido, dando-se, porém, alguma abertura a pequenos ajustamentos, perante as razões invocadas, no caso de filhos adolescentes. Com inteligência, de modo que se esclareçam as razões da negativa, que se dêem a conhecer os argumentos que levem à decisão tomada pelos pais. Com afectividade, de modo que as maneiras de apresentar a negação sejam serenas e cordatas.
Ora, de certo modo, as relações de poder dentro da família, são equivalentes aquelas que se passam dentro da escola e, muito especialmente, dentro da sala de aula.
Se uma criança ou adolescente está habituado a fazer aquilo que deseja dentro de casa, que lhe satisfaçam todos os seus caprichos, como é que se submeterá às regras da escola? O professor e a professora têm que ser, pois, em certa medida, pais dos seus alunos. Eles não podem dizer sim a certas solicitações inapropriadas, não devem permitir que a sala de aula se transforme em campo de futebol. Por outro lado, o seu poder tem que ser firme mas humanizado, adaptar-se às circunstâncias específicas e, sempre que possível, proporcionar a participação dos elementos que constituem a sua comunidade, na tomada das decisões. Administrar os poderes com sabedoria, quer na família, quer na escola, é contribuir para a harmonia de cada uma destas comunidades e auxiliar no desenvolvimento social e psicológico dos filhos e dos alunos.


                                                                     Mário Freire