Numa escola do ensino
básico, no 8ºano, a professora de Ciências, num dia que estava determinado para
a realização de um teste, apresentou aos alunos a tarefa de serem eles próprios
a fazerem as perguntas a que iriam responder. As surpresas foram evidentes,
começando logo pelo facto de que para se fazerem perguntas com significado
sobre um conteúdo, é preciso ter conhecimentos sobre aquilo que se vai
perguntar.
O interessante desta
ocorrência é que a professora valorizou, com este teste, o acto de fazer
perguntas. Ora, o nosso ensino baseia-se mais em ensinar os alunos a dar boas
respostas do que ensinar os alunos a fazer perguntas significativas. Perguntar
significa indagar, inquirir, interpelar, pesquisar, procurar. Ora, estes são
alguns dos mais importantes comportamentos que se visam quando se procura
desenvolver capacidades de natureza cognitiva. Imagine-se que, numa breve visita
de estudo, um passeio no campo, por exemplo, se propõe aos alunos que escrevam
perguntas suscitadas por aquilo que vêem, ouvem, tacteiam ou cheiram. E que,
depois, na aula, se discutam as diferentes questões formuladas. Destas duas
actividades, estar em plena natureza, interrogando-a naquilo que ela oculta e
procurar dar respostas às perguntas que tenham significado, eis uma boa maneira
de ensinar a formar um espírito inquiridor, que se interpela por aquilo que à
sua volta se passa. Claro que este espírito pode desenvolver-se de múltiplas
maneiras. Uma delas, por exemplo, seria partir de um texto e propor que o aluno
fizesse perguntas sobre ele e não o professor a fazê-las, para que o aluno
respondesse.
À escola compete um
lugar privilegiado na formação geral do aluno. E um dos aspectos dessa formação
passa por proporcionar situações em que os alunos não sejam, apenas, receptores
de um ensino que lhes é ministrado, meros espectadores das realidades que os
envolvem. Há que fazer deles sujeitos na construção dos seus conhecimentos, pessoas
interessadas por aquilo que os rodeia, que questionem a realidade envolvente,
nos seus múltiplos aspectos e que se questionem, também, a si próprios sobre os
seus comportamentos e atitudes.
Mário Freire