domingo, 31 de maio de 2015

A LIBERDADE E A FRATERNIDADE PODEM SER ENSINADAS NA ESCOLA?

          


Caim e Abel eram irmãos, filhos dos mesmos pais. Eles, no entanto, diferiam muito um do outro. Esta fraternidade identificada na Bíblia não se distingue daquelas que a humanidade, ao longo dos tempos, vai produzindo. A uma mesma natureza humana, com igual dignidade, vão correspondendo, igualmente, pessoas diferentes, com capacidades diversas, com especificidades próprias. Esta nossa humanidade, partilhando da mesma natureza, por isso mesmo fraterna na sua origem, é portadora, pois, de uma grande riqueza. É esta multiplicidade de dons que a faz avançar. Mas também é esta variedade de personalidades, como as de Caim, “que interrompem tantas vezes a nossa fraternidade de criaturas e deformam continuamente a beleza e nobreza de sermos irmãos e irmãs da mesma família humana. Caim não só não suporta o seu irmão Abel, mas mata-o por inveja, cometendo o primeiro fratricídio” (Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz, 2015).
Mas a fraternidade implica que cada um, independentemente das suas capacidades, do seu saber e do seu poder, não coarcte o outro na liberdade de ser. Todo aquele que se vê limitado de crescer, de se acrescentar mais naquilo que é, está a ser maltratado na sua liberdade. Esta imposição da limitação da liberdade a outrem provém quer de pessoas individuais, quer de instituições, quer do próprio Estado e pode expressar-se em formas degradantes de trabalho, em condições de vida não compatíveis com a dignidade humana ou, ainda, na descartabilidade da pessoa, sendo esta tratada como um objecto. Todas estas situações em que se nega a fraternidade humana são fomentadoras de guerra e de revolta e, daí, está a atentar-se contra a liberdade humana.

Como é possível a escola fomentar estes valores? Claro que o substrato que cada um trouxer de casa sobre a prática da fraternidade e da liberdade muito ajudará a escola a complementar a sua tarefa. Há, no entanto, sempre oportunidades, em todas as disciplinas, de se sugerir que um aluno ajude um colega com mais dificuldades; de abordar temas de âmbito curricular onde se discuta até onde pode ir o uso da liberdade. Tudo depende da cultura da escola, da organização dos espaços mas, fundamentalmente, da iniciativa dos professores. 

                                                  Mário Freire