sexta-feira, 27 de março de 2015

GOSTAM DA ESCOLA MAS NÃO DAS AULAS

         




Um estudo realizado para a Organização Mundial de Saúde, dado a conhecer nos últimos dias de 2014, diz-nos que a maioria dos adolescentes gosta mais da escola do que das aulas. Este estudo assentou num inquérito a mais de 6000 alunos dos 6º, 8º e 10º anos.
Ora, este gostar da escola quer significar que os adolescentes privilegiam as relações com os colegas, os intervalos das aulas, seguindo-se as actividades extra-curriculares e os professores. Por sua vez, as aulas não os atraem, considerando a “matéria difícil, demasiada e aborrecida”, no dizer do próprio estudo. Estas conclusões não são de admirar. Centrar-me-ia, numa curta análise, em dois aspectos: nas relações com os colegas e nas aulas.
O grupo de pares desempenha, na adolescência, um papel importante, quer oferecendo um suporte na resolução da sua identidade, tornando mais preciso quem é e quem não é, quer na possibilidade de experimentar novos papéis e, em função da reacção dos outros, avaliar-se da concordância entre eles e a ideia que faz de si próprio. Estas relações com os pares vão, depois, evoluindo, passando da partilha das actividades com os colegas da mesma idade para a intimidade psicológica e a confidência. De qualquer modo, estas relações com os colegas são importantes para o adolescente e a escola, devidamente enquadrada, é o lugar propício para fomentar o desenvolvimento social do adolescente. Outro aspecto referido pelos inquiridos é o da fraca atracção que eles manifestam pelas aulas. Este tópico, porém, revela-se mais complexo na sua interpretação pois ele tem a ver com múltiplas variáveis. Apontaria, apenas, aquela que considero a mais importante e que tem a ver com o meio sócio-familiar do aluno. Um lar que não funcione regularmente, onde as preocupações para fazer face às necessidades do dia-a-dia se sobrepõem a quaisquer outras, onde o ambiente de estudo não é o adequado, não pode suscitar alunos que se interessem pelas aulas. Em relação íntima com estas situações encontra-se o atraso escolar. Como é que um aluno, com deficits de aprendizagem anteriores, pode sentir-se satisfeito numa aula onde grande parte da matéria lhe passa ao lado?  
Este estudo, não trazendo grandes novidades, interpela-nos sobre o papel da escola mas também sobre o papel da comunidade, principalmente aquele que tem a ver com funções de poder. O que é que estes diferentes poderes poderão fazer para que a sociedade seja melhor?


                                         Mário Freire