domingo, 15 de março de 2015

DAR PARA NÃO RECEBER

                     



Ajudar os outros dá-nos prazer e enriquece de significado a nossa vida. Sentir que a nossa presença melhora a vida de um ente querido dá-nos uma sensação de preenchimento interior que se traduz na valorização da nossa existência. Sabemos que ser prestável não se limita forçosamente à nossa rede social e prova disso é o número crescente dos que se dedicam ao voluntariado, os quais afirmam que a satisfação que sentem ao ajudarem desconhecidos é, por vezes, ainda mais gratificante.
Parece estranho e até paradoxal sentirmos mais gratificação em auxiliar quem não conhecemos, mas a questão centra-se nas expectativas que criamos. Quando se ajuda alguém próximo, por muito que nos custe admitir, queremos ser retribuídos e, se não o formos, consideramos o outro um ser desprezível. Com desconhecidos, pelo contrário, não esperamos nada em troca, pelo que um simples sorriso, ou um doce olhar, derrete o nosso coração, faz-nos sentir reconhecidos e valorizados.
Precisamos de uma ginástica mental diária para não desanimarmos perante a inércia de um amigo para connosco. Quanto mais altas as nossas expectativas, maior o nível de desilusão. Queremos que nos satisfaçam, exigimos que respondam às nossas necessidades, caso contrário entramos no poço da amargura.
Ora, o voluntariado contribui para enfraquecer o suposto direito que consideramos ter de sermos retribuídos. Ajuda-nos a acalmar os gritos do Ego e a perceber que a felicidade também se encontra em nutrir e praticar valores mais abrangentes, com pessoas indiferenciadas. Praticar ações de voluntariado pode passar por distribuir comida aos sem-abrigo, fazer proezas desportivas a favor de uma associação, ou simplesmente contribuir para a Wikipédia. O importante, para que seja feito com o verdadeiro intuito de desenvolver em nós a tal sensação comovente e enriquecedora de quem não espera nada em troca, é fazê-lo no completo anonimato. Só assim entramos na dimensão que ultrapassa o que é singular e pessoal para nutrirmos algo mais elevado em nós.

Rossana Appolloni

www.rossana-appolloni.pt