domingo, 4 de janeiro de 2015

PUBLICIDADE, DIVERTIMENTO E FELICIDADE






Uma vez que a felicidade é um sentimento subjetivo que depende de vários fatores emocionais na vida de cada pessoa, a publicidade audiovisual procura equipará-la a momentos de alegria e de satisfação que possam ser representados em imagens concretas da vida quotidiana. Momentos nos quais o consumo do produto anunciado é o centro das atenções. São jovens de corpo esbelto que brincam, correm e saltam na praia, são cenas de família em que se celebram reuniões ou aniversários, são bebés irresistíveis, são brincadeiras com cães e gatos engraçados, são silhuetas recortadas na natureza, são encontros de amor, são ocasiões de mera frivolidade que traduzem aparentemente os sinais exteriores de felicidade induzidos por um objeto de marca. Ir às compras tornou-se um divertimento.
E qualquer divertimento no contexto mediático da sociedade cultural é-nos proposto como uma espécie de antecâmara da felicidade. É um carro que passa e torna a felicidade contagiante, é um gelado ou um chocolate que têm o sabor da felicidade, é um vestido novo ou um par de sapatos que torna feliz quem os usa. Nos anúncios, a felicidade deixa de ser um conceito subjetivo, integrado no projeto de vida do indivíduo, para se materializar nos produtos que nos pretendem vender. A relação entre as pessoas e os seus ideais passa a ser mediada pelos objetos de consumo e perde a autonomia de opções que proporciona ao ser humano a sua capacidade afetiva de ser feliz.
O caso da cadeia de fast-food MacDonald’s é paradigmático. Em 1979  lançou a Happy Meal, a refeição feliz destinada às crianças. Além do tradicional hambúrguer, a Happy Meal oferecia às crianças um brinquedo, através do qual evocava a felicidade para iludir os consumidores. Esta estratégia foi considerada um abuso às normas do consumo infantil, pelo que a MacDonald’s se viu obrigada a restringir estas práticas. A identificação com certas imagens levam-nos facilmente a cair nos meandros da manipulação das estratégias de marketing. Desenvolver um espírito crítico autónomo é fundamental para nos mantermos livres nas nossas escolhas.

                                              Rossana Appolloni

                                       www.rossana-appolloni.pt