Estava há dias sentado
numa esplanada. Havia várias mesas ocupadas por jovens de ambos os sexos. Eram,
certamente, estudantes do ensino secundário ou superior pois ali bem perto há
um estabelecimento que ministra cursos deste último nível mas que, igualmente,
prepara para o ingresso no superior.
Eles falavam alto e no
meio das gargalhadas eram frequentes os já (ou quase) dicionarizados termos como
ya, bué, curte. Ora, o que me
surpreendeu naquelas conversas foi a naturalidade com que eram empregues
palavrões de cariz sexual por ambos os sexos. E a utilização dessas expressões
nem, tão pouco, merecia um baixar de voz, perante o público mais velho circundante.
Eu, que as considerava de carácter reservado ou, então, destinadas a ofender
verbalmente alguém, verifico que elas andam por aí à solta em qualquer lugar
público. Por outro lado, atendendo ao modo e contexto como eram proferidos, julgo
que a carga semântica desses termos era desprovida de qualquer intenção de insulto
ou agressividade.
Aconteceu ter ido, no
dia seguinte, assistir à exibição do filme Os
gatos não têm vertigens de António-Pedro Vasconcelos, filme que aborda
problemas de integração quer dos mais jovens, quer dos mais velhos. Ora, nele
está bem patenteada a linguagem chula utilizada entre os jovens do filme,
estes, no entanto, oriundos de classe social baixa e de famílias
desestruturadas.
Será que este tipo de
linguajar está adstrito a este tipo de jovens? Uma pesquisa, ainda que sumária,
sobre o tema revelou-me que, num dos trabalhos universitários a que acedi, se
diz que “lexias de baixo prestígio social têm sido absorvidas ao discurso culto
e prestigiado, via oral ou escrita pelos meios de comunicação de massa.”
Enfim, são os tempos
de mudança que estão a repercutir-se em todos os sectores da nossa vida. Mas,
pergunto, será que a escola (para não dizer a família) tem que se conformar com
este tipo de comportamento verbal?
Mário
Freire