segunda-feira, 3 de novembro de 2014

PODER E AUTORIDADE NA SALA DE AULA

                         

Nos inícios dos anos 60, altura em que iniciei a minha carreira, sentia que a sociedade respeitava o professor e como esse respeito se transmitia aos pais e aos alunos. Não era difícil ser-se professor do liceu naquela época! A abertura da escola à sociedade estava muito longe de ser aquela que hoje, felizmente, é. Alunos oriundos de meios sociais problemáticos praticamente não existiam. A disciplina dentro da escola e da sala de aula era mantida sem esforço e sem sobressaltos.
Diria que naqueles tempos o poder e a autoridade se confundiam, isto é, o professor, com o poder que possuía, tinha a capacidade de influenciar os comportamentos dos alunos mas estes também reconheciam naquele essa mesma capacidade de serem influenciados, isto é, reconheciam-lhe autoridade. Aquele, na prática, apenas se preocupava com os conteúdos científicos dos programas e com as estratégias pedagógicas mais adequadas.
Ora, nos dias de hoje, devido à transformação profunda que se operou na família e na sociedade e no acesso de todas as camadas sociais à escola, o papel do professor, sem deixar de ter em conta os aspectos científicos e pedagógicos, tem que os subordinar ao modo como gere as relações, por vezes, complexas, com os alunos. E essas relações são determinantes no poder que os alunos atribuem ao professor, isto é, na autoridade que lhe é conferida.
O professor pode ter o poder de pôr os alunos fora da sala de aula, de reprová-los ou passá-los de ano mas não conseguir que seja reconhecida por eles a sua autoridade para os ensinar, para os ajudar a crescer. Ora, sem a autoridade do professor não pode haver ensino capaz nem aprendizagem com significado. A perda da autoridade do professor tem causas várias, começando, desde logo, por aquelas que residem no poder político. E tem consequências devastadoras para o professor, para as famílias, para o aluno e, principalmente, para a sociedade. Valeria a pena um debate, diria mesmo de âmbito nacional, para discutir este grande problema da sociedade portuguesa, mas que também ultrapassa fronteiras.


                                                            Mário Freire