A propósito de um
colóquio sobre o sucesso do sistema de ensino de alguns países asiáticos, foram
referidas no meu último post duas metas que constituíam o leme da acção
governativa de Singapura para a educação.
Enuncio, agora, as três
características que enformam o sistema educativo singapuriano:
1 - Meritocracia. O
discurso oficial pretende que todos tenham oportunidades iguais em matéria
educativa. O mérito de cada um, fundado no trabalho individual que realiza e
nas capacidades que evidencia, é avaliado através de exames nacionais, do
primário ao pré-universitário.
2 – Diferenciação de
percursos escolares, de acordo com as diferentes capacidades individuais. Estes
percursos são estabelecidos desde o primário, de acordo com as pontuações
obtidas nos exames nacionais, sendo os alunos encaminhados para vias de níveis
de complexidade diferentes.
3 – Equilíbrio entre a
definição política a nível central e a transferência progressiva da tomada de
decisões para os responsáveis pelos estabelecimentos.
Duas considerações
sobre as duas primeiras características que enquadram o sistema educativo de
Singapura: a) – A meritocracia, tal como é praticada, fomenta a desigualdade, o
elitismo, favorece os alunos mais dotados e os estabelecimentos mais
prestigiados. A provar esta asserção está o facto de serem as minorias étnicas
malaia e indiana que piores resultados obtêm nos exames, ao contrário da
maioria chinesa, cujos resultados são melhores. b) A diferenciação de percursos
escolares em idades escolares prematuras para alunos de ensino regular, com
base nos exames nacionais, ignora todas as circunstâncias familiares,
económicas e sociais adversas de que uma criança pode ser alvo e que lhe irão
condicionar o rendimento escolar. Estas dificuldades e contradições têm sido,
aliás, reconhecidas pelo próprio Governo que tem tentado, nos últimos dez anos,
diminuir as desigualdades que o próprio sistema de ensino promove e acentua.
O sistema de ensino de
Singapura tem, pois, aspectos positivos e negativos que suscitam reflexão. O
sucesso nas cifras internacionais que ele proporciona, porém, não justifica que
mereça, só por si, ser
copiado.
Mário Freire