Quando nos preparamos
para fazer um bolo parece-nos óbvio controlar primeiro os ingredientes que
temos. Querer um bolo de chocolate quando o único ingrediente à disposição
capaz de proporcionar sabor são limões é uma situação compreensivelmente
absurda. Mas além do ingrediente principal (neste caso, o chocolate),
precisamos de saber igualmente que outros ingredientes temos que nos ajudam a
preparar o bolo: o tipo de farinha, o tipo de açúcar, os ovos dentro do prazo,
depois ainda algum equipamento necessário (batedeiras, etc.), o forno adequado,
enfim… pode não ser tarefa fácil, sobretudo se não temos nada do que é
necessário para cozinhar o bolo de chocolate tal como o queríamos.
Ora, com o ser humano
passa-se a mesma coisa. Nós somos um conjunto de ingredientes dotados de certas
ferramentas capazes de construir relações e realizar sonhos. No entanto, antes
ainda de definir o tipo de bolo/objetivo que queremos, temos de conhecer os
ingredientes: quais são necessários e se os temos ou não. Grande parte das nossas
frustrações nasce precisamente desta incongruência entre os objetivos
estabelecidos e as ferramentas ao nosso dispor.
O primeiro passo é,
portanto, o autoconhecimento: conhecer os nossos ingredientes e como
funcionamos, caso contrário passamos a vida a querer bolos de chocolate quando
só temos limões. O autoconhecimento é uma fase extremamente difícil, razão pela
qual muitas pessoas fogem dela, preferindo continuar a viver na ilusão de terem
o chocolate.
O segundo passo é a
aceitação: não podendo fazer bolos de chocolate só com limões, em vez de
vivermos na revolta de não termos chocolate, é mais sábio aceitarmos que também
se podem fazer bolos com limões. Não será igual, mas será o que nos é possível.
E provavelmente o resultado será surpreendente! Porém, aceitar não implica
resignar-se. Uma atitude de resignação seria não fazer bolo nenhum. Aceitar
significa tomar parte ativa da solução perante a situação tal como ela se
apresenta. Só depois de conhecermos e aceitarmos o que temos é que podemos então
elaborar o bolo. E garanto-lhe que, para si, será o melhor do mundo!
Rossana Apolloni