Numa altura em que está prestes a comemorar-se mais um aniversário da Implantação da República, é justo recordar este ilustre pedagogo. Fez no passado dia 14 de Julho 92 anos que ele se suicidou com, apenas, 43 anos. Escrevia ele no jornal O Tempo, em 25 de Março de 1911: “Não é
só útil aquele ensino que visa fornecer conhecimentos de imediata aplicação”.
Ele devia visar também “criar um espírito científico, cultivar faculdades e
aptidões, ensinar a observar, a experimentar, a raciocinar, a fomentar o
espírito crítico, criar olhos para verem, mãos para trabalharem, cérebros para
pensarem, para que os cérebros, olhos e mãos caminhem juntos e livremente”.
António Aurélio da Costa Ferreira
nasceu em 1879, no concelho do Funchal. Foi para Coimbra, tendo-se licenciado
em Filosofia. Inscreveu-se, a seguir, em Medicina, tendo concluído este curso
em 1905.
Foi como educador e antropólogo que
se notabilizou. Desempenhou, como educador, a partir de 1911, o cargo de
Director da Casa Pia de Lisboa e aí teve um papel importante, tendo norteado a
sua actuação dentro dos princípios da “Escola Nova”. Assim, concedeu às
crianças e adolescentes a liberdade para que eles pudessem escolher, de acordo
com as suas capacidades, as artes e os ofícios. Incentivou, igualmente, as
aulas de trabalhos manuais, música e desporto.
Ele considerava a psicopedagogia como fundamental na formação de
professores de crianças com e sem necessidades educativas especiais. Entendia,
ainda, que o professor deveria visar o desenvolvimento de todas as capacidades
do educando, sendo a escola o espaço que melhor contribuiria para apetrechar o
aluno para o trabalho, para a vida, para a cidadania. Para isso, ao professor
não bastava ensinar a ler, escrever e contar.
Costa Ferreira foi o pedagogo que, no início do século XX, preconizou
que nenhuma criança, por maiores dificuldades que apresentasse, poderia deixar
de ter acesso à educação. Uma das suas obras mais importantes no domínio da
educação é Algumas lições de Psicologia e
Pedologia, editada em 1921.
Na actividade política, foi deputado e ministro. Saiu, no entanto,
desiludido da política activa. Atribui-se-lhe a seguinte frase: “Fui ministro.
Foi esta a maior honra que alcancei, o maior sacrifício que fiz e o maior
desgosto que até hoje experimentei. Hoje, em face do que para aí vai, não me
contento já com não voltar a ser ministro; não quero ser político”.
Mário Freire