quinta-feira, 2 de outubro de 2014

ANTÓNIO AURÉLIO DA COSTA FERREIRA - UM PEDAGOGO A RECORDAR





            Numa altura em que está prestes a comemorar-se mais um aniversário da Implantação da República, é justo recordar este ilustre pedagogo.  Fez no passado dia 14 de Julho 92 anos que ele se suicidou com, apenas, 43 anos. Escrevia ele no jornal O Tempo, em 25 de Março de 1911: “Não é só útil aquele ensino que visa fornecer conhecimentos de imediata aplicação”. Ele devia visar também “criar um espírito científico, cultivar faculdades e aptidões, ensinar a observar, a experimentar, a raciocinar, a fomentar o espírito crítico, criar olhos para verem, mãos para trabalharem, cérebros para pensarem, para que os cérebros, olhos e mãos caminhem juntos e livremente”.
            António Aurélio da Costa Ferreira nasceu em 1879, no concelho do Funchal. Foi para Coimbra, tendo-se licenciado em Filosofia. Inscreveu-se, a seguir, em Medicina, tendo concluído este curso em 1905.
            Foi como educador e antropólogo que se notabilizou. Desempenhou, como educador, a partir de 1911, o cargo de Director da Casa Pia de Lisboa e aí teve um papel importante, tendo norteado a sua actuação dentro dos princípios da “Escola Nova”. Assim, concedeu às crianças e adolescentes a liberdade para que eles pudessem escolher, de acordo com as suas capacidades, as artes e os ofícios. Incentivou, igualmente, as aulas de trabalhos manuais, música e desporto.
Ele considerava a psicopedagogia como fundamental na formação de professores de crianças com e sem necessidades educativas especiais. Entendia, ainda, que o professor deveria visar o desenvolvimento de todas as capacidades do educando, sendo a escola o espaço que melhor contribuiria para apetrechar o aluno para o trabalho, para a vida, para a cidadania. Para isso, ao professor não bastava ensinar a ler, escrever e contar.
Costa Ferreira foi o pedagogo que, no início do século XX, preconizou que nenhuma criança, por maiores dificuldades que apresentasse, poderia deixar de ter acesso à educação. Uma das suas obras mais importantes no domínio da educação é Algumas lições de Psicologia e Pedologia, editada em 1921.
Na actividade política, foi deputado e ministro. Saiu, no entanto, desiludido da política activa. Atribui-se-lhe a seguinte frase: “Fui ministro. Foi esta a maior honra que alcancei, o maior sacrifício que fiz e o maior desgosto que até hoje experimentei. Hoje, em face do que para aí vai, não me contento já com não voltar a ser ministro; não quero ser político”.


                                                        Mário Freire