terça-feira, 23 de setembro de 2014

UMA LAGOA ALENTEJANA


Parecia uma cena dum filme ainda a preto e branco: o frio era cortante, o nevoeiro espesso e, no meio da lagoa, via-se um corpo a boiar ao lado de um barco a remos com uma única pessoa vestida de negro que aguardava a chegada da entidade sanitária. Tudo isto se passou há várias décadas numa lagoa do litoral alentejano, a lagoa de Melides.
Localizada na costa alentejana, junto à praia com o mesmo nome, a lagoa de Melides estende-se para o interior através de vários quilómetros de arrozais. A norte, existe uma falésia de arenito. Desde 2010 que se encontra em processo de classificação, como Área Protegida. É um bom local para observar, patos e aves de rapina.
A abertura da lagoa ao mar, apesar de necessária para renovar a qualidade da água e permitir a recolonização por espécies marinhas, deverá ser efectuada antes da época de nidificação das aves aquáticas.
A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, presumimos que com a anuência do Instituto da Conservação da Natureza tem, por vezes, decidido abrir a Lagoa de Melides para o mar em plena época de nidificação das aves.
            A QUERCUS vem alertando as entidades oficiais para as consequências que decorrem de tal decisão, pois não são conciliadas a actividade dos agricultores com a época da procriação de aves.
            Porque não se ouve quem, tecnicamente, pode ajudar? Porque razão o Instituto da Conservação da Natureza atende outros interesses que não os da preservação da natureza? Porque se deixam morrer centenas de aves aquáticas? Simples incúria ou interesses meramente economicistas do cultivo do arroz?
Tudo deveremos fazer para evitar não só a perda da vida de seres humanos mas também a perda da vida de aves indefesas. De notar também que a observação de aves vem constituindo, em todo o mundo, um óptimo promotor turístico.

                                                          F. Neves