Parecia uma cena dum
filme ainda a preto e branco: o frio era cortante, o nevoeiro espesso e, no
meio da lagoa, via-se um corpo a boiar ao lado de um barco a remos com uma
única pessoa vestida de negro que aguardava a chegada da entidade sanitária.
Tudo isto se passou há várias décadas numa lagoa do litoral alentejano, a lagoa
de Melides.
Localizada na costa
alentejana, junto à praia com o mesmo nome, a lagoa de Melides estende-se para
o interior através de vários quilómetros de arrozais. A norte, existe uma
falésia de arenito. Desde 2010 que se encontra em processo de classificação,
como Área Protegida. É um bom local para observar, patos e aves de rapina.
A abertura da lagoa ao
mar, apesar de necessária para renovar a qualidade da água e permitir a recolonização
por espécies marinhas, deverá ser efectuada antes da época de nidificação das
aves aquáticas.
A Comissão de
Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, presumimos que com a
anuência do Instituto da Conservação da Natureza tem, por vezes, decidido abrir
a Lagoa de Melides para o mar em plena época de nidificação das aves.
A
QUERCUS vem alertando as entidades oficiais para as consequências que decorrem
de tal decisão, pois não são conciliadas a actividade dos agricultores com a
época da procriação de aves.
Porque
não se ouve quem, tecnicamente, pode ajudar? Porque razão o Instituto da
Conservação da Natureza atende outros interesses que não os da preservação da
natureza? Porque se deixam morrer centenas de aves aquáticas? Simples incúria
ou interesses meramente economicistas do cultivo do arroz?
Tudo deveremos fazer
para evitar não só a perda da vida de seres humanos mas também a perda da vida
de aves indefesas. De notar também que a observação de aves vem constituindo,
em todo o mundo, um óptimo promotor turístico.
F. Neves