Levantou grande
celeuma a insistência do Ministério da Educação na chamada Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC), e que
teve lugar há dois meses atrás. Adianto,
desde já, não me parecer razoável que docentes que tenham anos de serviço no
ensino, e em relação ao quais criaram expectativas de carreira, se vejam
submetidos a uma prova que os possa eliminar dessa mesma carreira. Há maneiras
mais dignas, eficazes e em tempo oportuno de seleccionar as pessoas para a docência.
Era sobre o conteúdo
da prova que desejava tecer algumas notas. Se um exame se destina a seleccionar
pessoas para o ensino, mesmo que ele exclua as especificidades de cada
disciplina, as questões a colocar deveriam situar-se no universo do ensino e da
aprendizagem. Pergunto-me quais os conhecimentos que a prova pretendia avaliar
e se os candidatos tinham prévio conhecimento dos objectivos e temas a testar.
Quanto às capacidades
envolvidas na resolução da PACC, o
avaliador preocupou-se mais com o comportamento do candidato perante problemas
de natureza intelectual, irrelevantes, até, do que com aqueles que
verdadeiramente assolam o quotidiano da escola e para os quais se exigem
capacidades relacionais, emocionais e de tomadas de decisão da parte do
professor.
A continuarem este
tipo de provas (o que espero não aconteça!), sugiro uma única pergunta para a
próxima prova. Julgo que ela explicitaria melhor os conhecimentos e capacidades
dos candidatos. Ei-la:
“Imagine que é
professor de uma turma de 30 alunos com idades entre os 14-15 anos. Os alunos
provêm do meio social médio-baixo, baixo, onde o desemprego atinge valores
elevados (cerca de 18%). 25% dos alunos estão sinalizados como provenientes de
ambientes familiares desestruturados.
Elenque alguns
problemas susceptíveis de ocorrer no recreio, no edifício da escola e na sala
de aula, decorrentes da situação descrita e, para cada um deles, delineie uma
estratégia concreta e realizável, para lhes fazer face”.
Mário Freire