domingo, 21 de setembro de 2014

UM TIRO PARA O AR...MAS QUE MATA


Levantou grande celeuma a insistência do Ministério da Educação na chamada Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC), e que teve lugar há dois meses atrás. Adianto, desde já, não me parecer razoável que docentes que tenham anos de serviço no ensino, e em relação ao quais criaram expectativas de carreira, se vejam submetidos a uma prova que os possa eliminar dessa mesma carreira. Há maneiras mais dignas, eficazes e em tempo oportuno de seleccionar as pessoas para a docência.
Era sobre o conteúdo da prova que desejava tecer algumas notas. Se um exame se destina a seleccionar pessoas para o ensino, mesmo que ele exclua as especificidades de cada disciplina, as questões a colocar deveriam situar-se no universo do ensino e da aprendizagem. Pergunto-me quais os conhecimentos que a prova pretendia avaliar e se os candidatos tinham prévio conhecimento dos objectivos e temas a testar.  
Quanto às capacidades envolvidas na resolução da PACC, o avaliador preocupou-se mais com o comportamento do candidato perante problemas de natureza intelectual, irrelevantes, até, do que com aqueles que verdadeiramente assolam o quotidiano da escola e para os quais se exigem capacidades relacionais, emocionais e de tomadas de decisão da parte do professor.  
A continuarem este tipo de provas (o que espero não aconteça!), sugiro uma única pergunta para a próxima prova. Julgo que ela explicitaria melhor os conhecimentos e capacidades dos candidatos. Ei-la:
“Imagine que é professor de uma turma de 30 alunos com idades entre os 14-15 anos. Os alunos provêm do meio social médio-baixo, baixo, onde o desemprego atinge valores elevados (cerca de 18%). 25% dos alunos estão sinalizados como provenientes de ambientes familiares desestruturados.
Elenque alguns problemas susceptíveis de ocorrer no recreio, no edifício da escola e na sala de aula, decorrentes da situação descrita e, para cada um deles, delineie uma estratégia concreta e realizável, para lhes fazer face”.


                          Mário Freire