Os interesses dos
homens nos serões desses anos variavam em função do respectivo estatuto
sociocultural. Havia o chamado “Clube dos Ricos” que, como o nome indica, era
centro de convívio de umas tantas famílias de terratenentes e de homens do topo
da hierarquia social, e as sociedades recreativas, com destaque para a
“Harmonia Eborense” e a “Bota Rasa”, frequentadas, sobretudo, por comerciantes,
pequenos industriais, empregados do comércio e dos serviços e militares
graduados. Aí se jogava o bilhar de três bolas, o xadrez, as damas, o dominó e
outros, em salas reservadas, com cartas e a dinheiro. Uma outra classe de
eborenses confraternizava na Sociedade Operária Joaquim António de Aguiar, um
sopro de republicanismo laico e progressista, a sobreviver numa urbe
particularmente conservadora.
Havia os que preferiam
o convívio nos clubes desportivos que eram três: o Lusitano, o Juventude e o
Sport Lisboa e Évora, modesta sucursal do já então grande Benfica. Outros
preferiam os cafés, nomeadamente, o Camões, na Porta Nova, o Arcada e a
Brasserie, na Praça do Giraldo, todos com esplanada nos meses sem chuva nem
frio, sob as arcadas e, ainda, o Estrela d’Ouro, no começo da antiga rua dos
Infantes. Num outro mundo, as tabernas, sempre cheias de uma clientela de gente
pobre, eram locais também frequentados pela soldadesca, sempre muita nesses
anos em que sediavam ali o Quartel-general da 4.ª Região Militar, o Regimento
de Infantaria e o de Artilharia 1, o Hospital Militar, a Manutenção Militar, a
Farmácia Militar e o Distrito de Recrutamento Reserva.
Nos serões, quando
tempo o permitia, o tabuleiro da praça do Geraldo era um mar de homens e
rapazes crescidos, em grupos de dois, três ou mais, a passearem para cá e para
lá, horas e quilómetros, conversando.
Nos anos 40 já havia
cinema, uma ou duas vezes por semana e, consoante a estação do ano, funcionava
em espaço interior, no teatro Garcia de Resende e, depois, no Salão Central
Eborense, ou ao ar livre, na Praça de Touros ou na esplanada dos Bombeiros
Voluntários. Em qualquer destes locais de divertimento, o grosso da assistência
era masculina. Mães e filhas no cinema, só acompanhadas pelo “chefe de
família”.
Nesses tempos não
havia televisão e a rádio ainda estava longe de entrar nas nossas vidas. Para
os que, ao serão, ficavam em casa, as histórias que se ouviam e contavam,
algumas de meter medo, com bruxas, feiticeiras, ladrões e salteadores, ou as
conversas que se desenrolavam faziam as vezes dos folhetins radiofónicos ou das
telenovelas do presente. Alguns dos contos ouvidos nesses finais de dia, li-os,
mais tarde, coligidos por Leite Vasconcelos em grosso volume editado pela
Universidade de Coimbra. Nem piores, nem melhores do que de hoje, foram tempos,
isso sim, diferentes e que marcaram o meu modo de ver a sociedade.
Galopim de Carvalho