No Verão, em Évora, mães, filhas e filhos
pequenos saíam à noite com destino ao Jardim Público, onde, às quintas-feiras e
aos domingos, havia concerto pela banda de Infantaria 16 ou pela dos Amadores
de Música. Era preciso chegar cedo para apanhar um bom lugar nos bancos da rua
principal, perto do coreto. Conversando com as companheiras de ocasião,
comentando isto ou aquilo acerca deste ou daquela que passava, tinham olho nas
crianças brincando por perto, e nas filhas adolescentes, passeando para lá e para
cá, de uma ponta à outra do jardim, flanando, como se dizia, acompanhadas pelos
rapazes seus amigos ou namorados, numa das poucas oportunidades que tinham para
estarem juntos.
Uma outra oportunidade, mais apetecida, era a
que podiam ter nos bailes nos clubes e nas sociedades recreativas. Uns
restritos à classe mais endinheirada, onde as roupas caras se exibiam e
disputavam, outros, frequentados pela classe remediada e outros, ainda, de
cariz popular. Todos, porém, tinham um aspecto em comum: duas filas de cadeiras
ao redor da sala, sendo que na fila da frente se sentavam as raparigas, à mercê
dos rapazes que as fossem buscar para dançar e, na de trás, se instalavam as
mães por muitas horas, entretidas a falar umas com as outras e, ao mesmo tempo,
a vigiarem e protegerem as respectivas filhas das “más línguas”. Oportunidade
única para andarem abraçados, era importante prevenir exageros e abusos que
“dessem nas vistas”.
Com excepção dos
bailes, os namorados desse tempo, ou “conversados”, como também se dizia e como
o nome indica, só tinham autorização para conversar. O namoro tinha lugar com a
pretendida à janela e o rapaz na rua. Aceite e de bom tom era que a janela fosse
alta, normalmente, de primeiro andar. Namoro à janela do rés do chão ou à porta
da rua era hipocritamente censurado pelos zeladores dos bons costumes e da
decência. Beijos ou outras atitudes mais íntimas, que sempre houve, só
aconteciam quando não houvesse olhos vigilantes por perto. Foi o tempo dos
“paus-de-cabeleira”, um irmão, ou uma irmã, uma tia ou, por vezes, a própria
mãe, com a função de evitarem atitudes tidas por “menos próprias” e garantir,
às “bocas do mundo”, a honra da jovem. Rapariga com mácula, dizia-se, “ficava
para tia”.
Galopim de Carvalho