quinta-feira, 21 de agosto de 2014

AS SURPRESAS DE UMA PRAIA ALENTEJANA


Vivo no Alentejo há algumas décadas; todavia só recentemente fui atraído pelas belezas da praia de São Torpes, praia concorrida sobretudo pelos banhistas e surfistas da região. Praia com grande importância na "mitologia local", tem a ela ligada duas lendas – a do mártir São Torpes e a da cidade que teria existido sob as suas areias - e ainda uma forma especial de embarcação de pesca, a jangada de São Torpes.
A primeira vez que tive a oportunidade de visitar aquela linda praia, fiquei surpreendido com um facto curioso: a praia estende-se por vários quilómetros mas poderá afirmar-se que, pelo menos metade dos banhistas, se concentra numa faixa de algumas dezenas de metros.
A razão é simples: nessa faixa, adjacente ao canal de escoamento das águas de arrefecimento das turbinas da central termoeléctrica de Sines, a temperatura da água do mar é mais elevada.
Aquela Central situa-se na costa alentejana, a cerca de 8 km a sudeste da cidade de Sines, junto à praia de São Torpes; compromete-se a cumprir a Política de Ambiente da EDP, empresa que, como é do conhecimento geral, desenvolve actividades de produção de energia.
Surge agora uma segunda surpresa: a Central de Sines da EDP está entre as mais poluidoras da União Europeia.
A central a carvão da EDP é a décima-segunda maior emissora de dióxido de enxofre e ocupa a mesma posição na libertação de óxido de azoto entre os vinte e sete. Os números são de investigadores ingleses para a organização não-governamental sueca "Stop the Acid Rain" ("Parem com a Chuva Ácida") e fazem parte da avaliação aos 100 maiores emissores europeus dos gases mais importantes para produção das chuvas ácidas, todos eles centrais a carvão ou a fuel. Já se sabia que a central de Sines estava entre as 30 unidades com maior contributo para o efeito de estufa, através da produção de CO2. Agora, o "ranking" fica completo. Mais do que acusar, o objectivo da ONG é mostrar que, tendo os dois gases efeitos sobre a saúde e o meio ambiente - as centrais são também emissoras de dióxido de carbono - a aplicação das tecnologias mais avançadas podia não só baixar drasticamente as emissões, como os ganhos daí derivados para a saúde seriam, em média, 3-4 vezes superiores aos custos.
As 100 centrais mais poluentes da Europa correspondem a 40 por cento da produção eléctrica instalada, mas o seu impacte ambiental é superior: são responsáveis por 51 por cento das emissões de dióxido de enxofre e 44 por cento das de óxido de azoto.
E, em conclusão, uma terceira surpresa, agora, agradável: está previsto o encerramento para breve da Central de Sines da EDP , o que do ponto de vista ambiental constitui uma óptima notícia para Portugal e para os portugueses, excepto para alguns banhistas da praia de São Torpes.

                                                                        FNeves