Vivo no Alentejo há
algumas décadas; todavia só recentemente fui atraído pelas belezas da praia de
São Torpes, praia concorrida sobretudo pelos banhistas e surfistas da região.
Praia com grande importância na "mitologia local", tem a ela ligada
duas lendas – a do mártir São Torpes e a da cidade que teria existido sob as
suas areias - e ainda uma forma especial de embarcação de pesca, a jangada de
São Torpes.
A primeira vez que
tive a oportunidade de visitar aquela linda praia, fiquei surpreendido com um
facto curioso: a praia estende-se por vários quilómetros mas poderá afirmar-se
que, pelo menos metade dos banhistas, se concentra numa faixa de algumas
dezenas de metros.
A razão é simples:
nessa faixa, adjacente ao canal de escoamento das águas de arrefecimento das
turbinas da central termoeléctrica de Sines, a temperatura da água do mar é
mais elevada.
Aquela Central
situa-se na costa alentejana, a cerca de 8 km a sudeste da cidade de Sines,
junto à praia de São Torpes; compromete-se a cumprir a Política de Ambiente da
EDP, empresa que, como é do conhecimento geral, desenvolve actividades de
produção de energia.
Surge agora uma
segunda surpresa: a Central de Sines da EDP está entre as mais poluidoras da
União Europeia.
A central a carvão da
EDP é a décima-segunda maior emissora de dióxido de enxofre e ocupa a mesma
posição na libertação de óxido de azoto entre os vinte e sete. Os números são
de investigadores ingleses para a organização não-governamental sueca
"Stop the Acid Rain" ("Parem com a Chuva Ácida") e fazem
parte da avaliação aos 100 maiores emissores europeus dos gases mais
importantes para produção das chuvas ácidas, todos eles centrais a carvão ou a
fuel. Já se sabia que a central de Sines estava entre as 30 unidades com maior
contributo para o efeito de estufa, através da produção de CO2. Agora, o
"ranking" fica completo. Mais do que acusar, o objectivo da ONG é
mostrar que, tendo os dois gases efeitos sobre a saúde e o meio ambiente - as
centrais são também emissoras de dióxido de carbono - a aplicação das
tecnologias mais avançadas podia não só baixar drasticamente as emissões, como
os ganhos daí derivados para a saúde seriam, em média, 3-4 vezes superiores aos
custos.
As 100 centrais mais
poluentes da Europa correspondem a 40 por cento da produção eléctrica
instalada, mas o seu impacte ambiental é superior: são responsáveis por 51 por
cento das emissões de dióxido de enxofre e 44 por cento das de óxido de azoto.
E, em conclusão, uma
terceira surpresa, agora, agradável: está previsto o encerramento para breve da
Central de Sines da EDP , o que do ponto de vista ambiental constitui uma
óptima notícia para Portugal e para os portugueses, excepto para alguns
banhistas da praia de São Torpes.
FNeves