quinta-feira, 3 de julho de 2014

SER PROFESSOR HOJE


        Num artigo publicado no passado mês de Maio no semanário francês L’Express, comentavam-se os resultados de dois inquéritos. Não sei se há grande legitimidade na transferência dos resultados desta inquirição para Portugal. De qualquer modo, perante a proximidade cultural entre os dois países e as situações similares de natureza familiar que se vivem, não tenho grande relutância em considerar que muitos destes resultados poderiam, igualmente, encontrar-se no nosso País.
Num desses inquéritos, realizado em meados do ano passado a 5.000 professores, 87% diziam-se mal considerados pela sociedade e 92% admitiam mesmo que os media os agredia. Já este ano, num outro inquérito abrangendo 15.000 professores, mais de 80% dos inquiridos afirmaram que a opinião pública não compreendia o seu trabalho e cerca de metade sentia-se incompreendida pelo ambiente que a rodeia.
Existe, pois, um sentimento dominante entre a classe docente francesa de que é desconsiderada. Infelizmente, em Portugal, temos, igualmente, casos bastantes de desconsideração dos professores quer por parte do Estado, quer por parte de alguma população e de que certos pais são os primeiros a dar o testemunho. Para esta última realidade muito contribuiu a democratização da escola e, com ela, um acesso generalizado de alunos, oriundos de todas as classes sociais, a uma maior escolarização. Se este facto é um bem, ele nem sempre foi traduzido em acompanhamento e empenhamento dos pais no trabalho escolar dos seus filhos. Para muitos daqueles, mais importante do que os filhos aprendam é que estes transitem de ano. E, claro está, quando as classificações não agradam aos alunos, estes têm sempre maneiras de as justificar junto dos pais, pondo o ónus nos professores.

            Este sentimento de desconsideração social, que tem correspondência em comportamentos de indisciplina quer da parte de alguns alunos, quer da parte de alguns pais para com os professores, poderá atenuar-se com um diálogo, nem sempre conseguido mas que tem que ser procurado, da escola com a família, tentando mostrar aos pais que os fins que ambas as instituições perseguem não se opõem mas, antes, se complementam.   

                                                           Mário Freire