Num artigo publicado no
passado mês de Maio no semanário francês L’Express, comentavam-se os resultados
de dois inquéritos. Não sei se há grande legitimidade na transferência dos
resultados desta inquirição para Portugal. De qualquer modo, perante a
proximidade cultural entre os dois países e as situações similares de natureza
familiar que se vivem, não tenho grande relutância em considerar que muitos
destes resultados poderiam, igualmente, encontrar-se no nosso País.
Num
desses inquéritos, realizado em meados do ano passado a 5.000 professores, 87%
diziam-se mal considerados pela sociedade e 92% admitiam mesmo que os media os agredia.
Já este ano, num outro inquérito abrangendo 15.000 professores, mais de 80% dos
inquiridos afirmaram que a opinião pública não compreendia o seu trabalho e
cerca de metade sentia-se incompreendida pelo ambiente que a rodeia.
Existe,
pois, um sentimento dominante entre a classe docente francesa de que é
desconsiderada. Infelizmente, em Portugal, temos, igualmente, casos bastantes
de desconsideração dos professores quer por parte do Estado, quer por parte de
alguma população e de que certos pais são os primeiros a dar o testemunho. Para
esta última realidade muito contribuiu a democratização da escola e, com ela,
um acesso generalizado de alunos, oriundos de todas as classes sociais, a uma maior
escolarização. Se este facto é um bem, ele nem sempre foi traduzido em
acompanhamento e empenhamento dos pais no trabalho escolar dos seus filhos.
Para muitos daqueles, mais importante do que os filhos aprendam é que estes transitem
de ano. E, claro está, quando as classificações não agradam aos alunos, estes
têm sempre maneiras de as justificar junto dos pais, pondo o ónus nos professores.
Este sentimento de desconsideração
social, que tem correspondência em comportamentos de indisciplina quer da parte
de alguns alunos, quer da parte de alguns pais para com os professores, poderá
atenuar-se com um diálogo, nem sempre conseguido mas que tem que ser procurado,
da escola com a família, tentando mostrar aos pais que os fins que ambas as
instituições perseguem não se opõem mas, antes, se complementam.
Mário Freire