Alcide d'Orbigny
Ainda
em Inglaterra, o já referido William Daniel Conybeare (1787-1857) foi um dos
mais distintos geólogos e paleontólogos do seu tempo. Tendo tomado ordens
sacras em 1814, tornou-se pároco de Wardington, perto de Banbury, no condado de
Oxfordshire, e leitor em Brislington, nos arredores de Bristol, sendo um dos
fundadores, em 1822, do Instituto Filosófico Bristol.
Foi
vigário de Axminster e, depois, deão de Llandaff, no País de Gales. Atraído
para a geologia, ao seguir as palestras de John Kidd (1755-1851), Conybeare
ficou na história da paleontologia pelos inovadores estudos que realizou, na
década de 1820, sobre os fósseis de répteis marinhos, nomeadamente
ictiossáurios e plesiossáurios, publicados pela Sociedade Geológica de Londres,
de que foi um dos primeiros e mais activos membros.
Anos
mais tarde, em França, o naturalista Alcide Charles Victor Marie Dessalines
d'Orbigny (1802-1857), de projecção mundial na área da paleontologia e da
estratigrafia, foi ainda zoólogo com obra reconhecida no domínio dos
invertebrados.
Estudou
no Museu de História Natural de Paris com Georges Cuvier e viajou durante sete
anos pelo continente sul-americano em missão deste Museu, reunindo uma colecção
de mais de uma dezena de milhares de exemplares zoológicos e paleontológicos,
cujo estudo foi publicado em La Relation du Voyage dans l'Amérique Méridionale
pendant les annés 1826 à 1833, em sete volumes e dois atlas. O naturalista
inglês Charles Darwin, seu contemporâneo, classificou esta obra como um dos
grandes monumentos da ciência. Regressado a Paris, d'Orbigny estudou
pormenorizadamente a fauna fóssil do Jurássico e do Cretácico de França e a sua
distribuição estratigráfica pelos andares Toarciano, Caloviano, Oxfordiano,
Kimeridgiano, Aptiano, Albiano e Cenomaniano. Este volumoso trabalho, no qual
descreveu cerca de 3000 espécies e figurou 1000 estampas, foi publicado entre
1840 e 1858, em oito volumes, sob o título La Paléontologie Française.
No
seu Prodrome de Paléontologie Stratigraphique, em três volumes, editado em
1849, descreveu milhares de espécies, com anotações sobre as respectivas
posições estratigráficas. Ao estudar a fauna marinha, d´Orbigny interessou-se
especialmente por um grupo de organismos minúsculos a que deu o nome de foraminíferos.
Seguidor de Cuvier, seu mestre, não aderiu às ideias evolucionistas de Lamarck.
Permanecendo fiel ao catastrofismo, defendeu a ocorrência de múltiplas criações
ao longo do tempo geológico, terminadas por cataclismos.
A
“Colecção d’Orbigny”, com cerca de 100 000 exemplares, é um dos mais valiosos
patrimónios do Museu de História Natural de Paris. Entre esta colecção merece
destaque a representação dos briozoários actuais e fósseis, com milhares de
exemplares, fruto de uma muito especial atenção que deu a este grupo de
invertebrados.
Em
1853, o Museu onde sempre trabalhou, criou a primeira cadeira de Paleontologia,
cuja regência lhe entregou, em reconhecimento da sua volumosa e valiosa obra.
Quando D. Pedro V de Portugal visitou Paris, d’Orbigny ofereceu-lhe, entre
outros materiais, uma magnífica colecção de fósseis que, depois, o monarca
mandou entregar no Museu de Mineralogia e Geologia da Escola Politécnica de
Lisboa.
Médico
inglês, destacado na Índia, Hugh Falconer (1808-1865) é lembrado por ter
descoberto o primeiro fóssil de um símio. Os seus conhecimentos de geologia e
paleontologia levaram-no a interessar-se pelos Montes Siwalik, no Nepal, e a
descobrir aí importantes jazidas fossilíferas de mamíferos do Neogénico.
Regressado
a Inglaterra, continuou a fazer as suas investigações geológicas e
paleontológicas e a preparar réplicas destinadas aos principais museus da
Europa.
Falconer
defendeu que, ao longo do tempo geológico, se verificou a existência de longos
períodos de invariabilidade da evolução das espécies, alternando com curtos
períodos de rápida mudança evolutiva. Esta visão antecipou de um século a
Teoria do Equilíbrio Pontuado, proposta em 1972 pelos paleontólogos Niles
Eldredge (1943-) e Stephen Jay Gould (1941-2002), que, no pensamento destes
norte-americanos, se afirma que a maior parte das populações de organismos de
reprodução sexuada experimentam pouca mudança ao longo do tempo geológico e
que, quando ocorrem mudanças evolutivas, no fenótipo, elas se dão de forma rara
e localizada, em eventos rápidos de especiação.
Galopim
de Carvalho