Nada na escola é neutro. Os alunos
aprendem coisas que ultrapassam aquilo que lhes é ensinado pela via
institucional. E essas aprendizagens têm a ver com múltiplos factores: modos
como os alunos se relacionam; modos como os professores se relacionam com os alunos
dentro e fora da sala de aula; hierarquias explícitas e implícitas dentro da
escola; expectativas em relação aos alunos; formas de participação dentro da
escola; interacções da escola com o meio envolvente e com a comunidade em
geral…
São
todos estes relacionamentos, expectativas, interacções e vivências, não
explicitados nos manuais ou programas, que ajudam a construir conhecimentos,
valores e motivações e que adquirem uma importância, por vezes maior do que
expressamente está estatuído através dos programas. É o currículo oculto que,
fundamentalmente, define uma cultura organizacional e que, numa escola de
formação de professores, como a Escola do Magistério Primário, iria assumir uma
importância maior.
Seria, pois, a partir deste tipo de
currículo mas, também, de um novo plano de estudos, com a criação de novas
disciplinas, extinção de outras e na reformulação de algumas que já existiam,
que se pretendia construir uma concepção diferente de professor do ensino
primário; a ele iria pedir-se o desempenho de um conjunto de papéis, na sua
prática profissional, que ultrapassasse o simples dar aulas, intervindo nas
condições exteriores de modo a proporcionar à criança o ambiente mais adequado
ao seu desenvolvimento.
Desejava-se que ele não se limitasse
a ser um mero observador de situações desfavoráveis, mas que tentasse, também,
encontrar soluções. Queria-se um professor do ensino primário que fosse, também,
um obreiro social não só junto dos pais mas, igualmente, junto das populações,
principalmente aquelas situadas mais no interior ou que mais isoladas se
encontrassem. Uma utopia ou uma realidade alcançável?
Mário
Freire