Já
vimos em textos anteriores que o sentimento de culpa é desgastante e, na
maioria das vezes, não contribui em nada para o nosso bem-estar. No entanto,
este sentimento é essencial para a nossa vida em sociedade na medida em que
implica uma autoavaliação, isto é, um julgamento dos nossos próprios
comportamentos de forma a termos em consideração o bem-estar do outro aquando
das nossas escolhas. Assim, o sentimento de culpa traduz-se por um sinal de
saúde psicológica ou moral, importante nas relações sociais. De outra forma,
tornar-nos-íamos todos delinquentes e serial killers e viveríamos bem com isso.
O
sentimento de culpa provoca o reforço de relações sociais por várias razões:
antes de agirmos, tendemos a prever o efeito que a nossa ação causa no outro e
no nosso estado emotivo, pelo que ao nos sentirmos culpados podemos optar por
não cometer essa ação. Por outro lado, quando nos sentimos culpados, tentamos
reparar o dano provocado, quanto mais não seja pedindo desculpa. Ao fazermos
isso, estreitamos a relação com o outro. Por fim, tentarmos remediar o dano
causado, faz-nos muitas vezes ver e agir além do próprio lesado, tentando fazer
bem até a pessoas desconhecidas. Em casos onde é impossível corrigir o que se
fez, o sentimento de culpa pode tornar-se insuportável, encontrando forma de
expiação em comportamentos de assistência aos outros (o que não significa que
por trás de gestos altruísticos esteja sempre um sentimento de culpa latente).
Podemos
então concluir que quanto maior a propensão para nos sentirmos em culpa, maior
a nossa sensibilidade para com os outros. Temos a preocupação de não provocar
sofrimento no outro, agindo de forma prejudicial. O único risco, para o qual é
necessário ter muita atenção, é quando nos tornamos vítimas de um sentimento de
culpa injustificado. É aí que este se torna desgastante e inútil. De outra
forma, façamos um uso positivo deste sentimento tão benéfico a uma vida social
mais rica e plena.
Rossana
Appolloni