Algumas
décadas atrás considerava-se o quociente intelectual (QI) como uma entidade fundamental
para a predição do êxito escolar. É claro que a sua determinação estaria ligada
a um certo conceito de inteligência.
Sabe-se hoje que a inteligência pode
manifestar-se sob múltiplas formas e revestir aspectos com incidências em
vários campos. Ela parece ser um conjunto complexo de competências em que a
pessoa, numa delas, pode revelar um desempenho que não é, necessariamente, o
mesmo nas outras.
Por
isso, o QI, embora continue ainda a ser usado, já não tem, presentemente, a
absolutização que lhe era atribuído. Além disso, aquilo que parecia ser uma
entidade imutável veio, depois, através de múltiplas experiências, a dar lugar
à concepção de que as capacidades cognitivas podem mudar, de que é possível desenvolver-se
a capacidade de aprender.
Vários
programas foram levados a cabo, tendo em vista promover algumas competências
cognitivas. A Universidade do Minho e a F. C. da Universidade de Lisboa
chegaram mesmo a impulsionar actividades de desenvolvimento cognitivo fora das
actividades curriculares. Outros programas, no entanto, apareceram que estão
enquadrados nas actividades do currículo, em que os alunos, ao mesmo tempo que
aprendem conteúdos disciplinares, põem em actividade novas estratégias de
pensar e de aprender.
Pelo
menos uma intervenção deste tipo já foi operacionalizada, a título
experimental, na região de Lisboa, abrangendo 46 alunos do 6º ano de
escolaridade, com baixo rendimento na disciplina de Língua Portuguesa, tomando
esta disciplina como instrumento do desenvolvimento cognitivo.
Talvez
valesse a pena ler o livro da Mª Helena Salema (Ensinar e aprender a pensar, Texto Editores), pois ele poderia
inspirar acções neste campo com repercussões nos domínios pedagógico e social.
Mário Freire