Ao abordar-se a temática do insucesso e do abandono
escolares vêm-nos à mente os défices familiares (relacionais, económicos e culturais)
dos alunos assim como os aspectos pedagógicos. Se, muitas vezes, a ênfase é
colocada nos primeiros, é certo que as acções que têm lugar na sala de aula e
na escola não deixam de ter relevância. Estes temas, aliás, já neste espaço
foram abordados.
Centrar-me-ia, agora, nas relações desajustadas
entre alunos e metodologias de ensino e nos aspectos cognitivos que com elas se
relacionam. Num livro de Maria Helena Salema (Ensinar e aprender a pensar) estas relações são bem evidenciadas. A
autora destaca, ainda, o “abaixamento de ferramentas cognitivas essenciais”.
Ora, de entre estas, são salientadas a compreensão, a análise, a síntese, a
avaliação, a composição textual pois elas, estando em foco em todas as
disciplinas, interferem directamente na aprendizagem escolar.
Quem tiver feito a sua formação
pedagógica nos anos 70 para a docência no ensino liceal, decerto se lembrará de
uma tal taxonomia de objectivos cognitivos de Bloom. Ela era constituída por um
conjunto de objectivos que visava, precisamente, que o aluno pudesse lidar com
níveis mais elevados de cognição que não fossem, apenas, a memorização ou,
quanto muito, a aplicação.
A
partir dos finais dessa década, contudo, colou-se à referida taxonomia um
estereótipo de revanchismo pedagógico, de fazer do estudante um ser programado,
identificável apenas pelos comportamentos observáveis, tendo sido, então,
abandonada. Depois disso, ela sofreu uma revisão substancial, mantendo-se
contudo, a estrutura inicial. Com a publicação revista em 2001, a taxonomia de
Bloom como que renasce,
não parando o ritmo de publicações que a estudam e a aplicam.
Serve
isto para dizer que na sala de aula podem e devem ser ensaiadas estratégias
pedagógicas que façam uso de capacidades cognitivas de nível elevado do aluno e
que agora, mais do que nunca, dêem resposta às solicitações que a sociedade de hoje
exige e de que a escola não pode alhear-se.
Mário Freire