Barba Azul conta a
história de um aristocrata rico, muito feio e com uma horrível barba azul. Um
dia, ao visitar um dos seus vizinhos, pediu para casar com uma das filhas e a
família ficou muito assustada, pois ele já se tinha casado outras seis vezes e ninguém
sabia o que tinha acontecido com as anteriores esposas. Acabou por convencer a
família e casou com a filha mais nova.
Após o casamento foram
viver para o castelo de Barba Azul. Algum tempo depois, Barba Azul precisou de
ir de viagem e entregou todas as chaves de casa à sua esposa, incluindo a de um
quarto que ele a tinha proibido de abrir.
Assim que ele partiu,
ela começou a sofrer de uma enorme curiosidade pelo quarto proibido. Contou o
segredo à irmã, que a convenceu a entrar no quarto. Ao satisfazer a curiosidade
viu o chão do quarto todo manchado de sangue e os corpos das ex-mulheres
pendurados na parede. Apavorada, voltou a trancar a porta mas não reparou que o
sangue tinha sujado a chave. Quando Barba Azul voltou, percebeu imediatamente o
que a esposa tinha feito e, tomado pela raiva, tentou matá-la mas ela conseguiu
fugir e salvar-se.
Esta história
serve-nos de ponto de reflexão para as relações que hoje vivemos. Todos nós
temos um passado, vivido com outras pessoas, do qual nos devemos distanciar
para vivermos novas relações saudáveis. Tentar escavar no passado do outro
implica querer entrar num mundo do qual nós não fazíamos parte e que pode ser
prejudicial trazê-lo para o presente. Nunca conheceremos a outra pessoa na sua
plenitude, é um facto.
O desafio e a magia
das relações é precisamente tentar conhecer o outro no seu presente, pois é
nesse presente que nós temos espaço. Conhecer formas de pensar, sentir ou agir
do passado e trazê-las ao de cima é meio caminho andado para reviver as mesmas
coisas. Ora, se a relação anterior já acabou, será que queremos reviver as
mesmas situações ou queremos ter algo diferente? Repetir padrões vai-nos levar
sempre ao mesmo sítio. E porque não respeitar os quartos fechados do outro e
viver aqueles que estão abertos, agora, para nós?
Rossana Appolloni