Quem
for professor, principalmente nos dois últimos ciclos do ensino básico, e tenha
pedido a alunos para ler determinado texto, seja de que matéria for, muitos
deles terão dificuldade em fazê-lo com correcção. Se lhes for solicitado para
resumirem, oralmente, o que acabaram de ler, a dificuldade aumentará e ela acentuar-se-á
ainda mais se tiverem que fazer uma composição escrita do que apreenderam do
texto lido.
Não
se pretende pôr em causa, com a asserção anterior, o ensino feito no 1º ciclo. Pelo
contrário: os professores desse ciclo deparam-se hoje com crianças que vivem
imersas num mundo cheio de imagens e sons e em que a escrita, base telemóvel, é
cheia de abreviaturas e símbolos, que pouco tem a ver com um texto. Ora, é esse
desafio, nada fácil, de domesticar
este mundo digital e compatibilizá-lo com um ensino de uma língua materna, a que
o professor do 1º ciclo tem que fazer face.
Seja
como for, é de inferir que muitos alunos que não possuam um nível adequado nas
capacidades de leitura, interpretação e expressão (oral e escrita), tenham
dificuldades em aprender. A compreensão dos conceitos torna-se, então, difícil
e, mais ainda, a sua aplicação; daí à desmotivação vai um pequeno passo que os
poderá empurrar para o insucesso escolar.
Torna-se,
pois, crucial para as aprendizagens, o domínio daquelas capacidades, no âmbito
da Língua Portuguesa, ao nível do ensino básico. E esse domínio certamente que
interessa não só ao professor de Português mas a todos os outros, seja de que
disciplina for. Só com uma acção concertada e co-responsável em que possa ser
exigido do aluno, em conformidade à sua escolaridade, um uso adequado da língua
materna, ele poderá sentir que esta, mais do que uma disciplina entre as
outras, é um meio que lhe serve para comunicar, progredir e ter êxito nas
aprendizagens das várias disciplinas.
Mário Freire