Hoje
em dia, a nossa sociedade ensina-nos cada vez mais a fazermos escolhas baseadas
na utilidade, pelo que vale a pena perguntar: meditar é útil? Na verdade, a
meditação não deve servir para nada, não deve ser praticada tendo em vista um objetivo
específico.
A
prática da meditação comporta uma parte de não estar à espera de nada. Meditar
implica ignorar pretensões e não prefigurar ou imaginar nada no sentido de
desejar que algo aconteça. O movimento que dá vida a quem medita é, curiosamente,
um não movimento: uma intenção de não intenção. Os taoistas chamam-lhe agir sem agir. Trata-se portanto de uma
atitude mental, subtil e, de certa forma, paradoxal.
Se
tentar sentar-se por dez minutos num sítio calmo, de forma a concentrar-se
unicamente na sua respiração, dar-se-á conta do turbulento e involuntário fluxo
de pensamentos e de emoções. Meditar é precisamente tomar consciência deste
fluxo: as faculdades da atenção que permitem este olhar interior desenvolvem-se
gradualmente, tal como a capacidade de regular as emoções.
Nas
suas diversas formas, a meditação é uma exploração da natureza da mente. Uma
das práticas mais faladas hoje é a mindfullness,
ou seja, de plena consciência. Nesta, o praticante torna-se menos reativo às
próprias emoções, adquire uma consciência mais clara dos seus processos mentais
e descobre assim um meio para os transformar.
Quem medita abre-se à
experiência em sentido lato, isto é, a tudo o que acontece dentro de si e à sua
volta. As manifestações podem ou não ser agradáveis, pois o objetivo é
aproximar-se a elas observando-as com desapego e sem se esforçar por controlar
as emoções ou os pensamentos.
Treinar esta capacidade de
distanciação, observação, desapego do que nos acontece enquanto meditamos,
tentando sempre chamar a nossa mente para as sensações do aqui e agora, permite
aplicarmos os mesmos princípios nas situações do dia-a-dia. Permite-nos
desfrutar mais do presente de uma forma mais recetiva e simultaneamente mais
ativa.
Rossana Appolloni