segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O SABOR DA SOLIDÃO


Um dos medos mais comuns entre os homens é o medo da solidão. Aqueles que a escolhem voluntariamente vêem-na como uma escolha saudável que ajuda a acalmar e a esclarecer a mente; aqueles que a vivem por falta de alternativa sentem-na como um suplício.
A solidão, quando imposta, é sinónimo de sofrimento; quando escolhida, é sinónimo de autonomia. No entanto, também há que distinguir a solidão afetiva da solidão social, pois a pessoa pode estar quotidianamente rodeada por muita gente e sentir-se interiormente sozinha e incompreendida. A questão é, portanto, intrínseca ao sujeito e a sensação de solidão é tanto mais sentida quanto maior for a sua necessidade de afeto.
Todos nós somos seres sociais e todos nós precisamos de afeto, mas quando essa necessidade é demasiado forte ao ponto de condicionarmos todas as nossas escolhas em função da atenção do outro, perdemos por completo a nossa liberdade enquanto ser individual e autónomo. Ora, o princípio da autonomia é precisamente o que nos permite conquistar a confiança em nós próprios e perder o medo da solidão.
Quando perdemos o medo da solidão, as nossas relações passam a ser regidas pelo princípio da liberdade e não pelo princípio do apego e da dependência. A sensação de independência faz com que a pessoa aposte em si mesma e faça escolhas baseadas numa verdadeira vontade interior livre e não em função do que vai receber em troca (atenção, afeto, reconhecimento, etc.). Desta forma, os encontros passam a ser mais genuínos, mais naturais, contribuindo assim para o enriquecimento e o desenvolvimento de cada um de nós.
Trata-se de viver uma interdependência, na qual nos definimos antes de tudo por sermos seres independentes na nossa relação com os outros. Para isso, temos de conseguir sentir o sabor da solidão.

                                                 Rossana Appolloni