sábado, 17 de agosto de 2013

In memoriam de URBANO TAVARES RODRIGUES


Não sou eu que posso evocar sua volumosa, diversificada e riquíssima obra literária. Outros o fizeram e farão. Mas posso evocar a sua dimensão humana e a atenção que sempre deu aos problemas sociais do Alentejo. Problemas que sempre encontrei na dramaturgia e na poética do cante Alentejano.
Expressão a um tempo literária e musical da cultura popular tradicional da maior província de Portugal, esta expressão artística, iniciada no Baixo Alentejo, talvez em Serpa, admite-se que, no século XV, traduz o seu quotidiano, em toda a sua extensão sentimental, as mais das vezes, nostálgica.
No tempo em que fui rapaz, em Évora, eram muitos os trabalhadores que, ao sábado, ganha a magra féria, vinham à Porta Nova fazer os avios para a semana. Com séculos de história e a mesma tipologia sócio-económica desde finais da Idade Média, a Porta Nova sempre foi uma plataforma apta a responder aos citadinos e aos vindos dos campos em redor, ou de “fora-de-portas”, como se dizia. Procurando esquecer, por momentos, a “porca da vida”, muitos deles prolongavam a estadia na cidade, serão adentro, comendo, bebendo e cantando em coro à volta de uma mesa repleta de copos de vinho, uns cheios, uns meios, outros vazios. Ouvi-os, durante os anos da minha estadia na cidade, e em muitos dos versos que cantavam estava a mesma luta dos explorados e oprimidos que podemos reconhecer na bela escrita deste grande português que na semana passada nos disse adeus.

                                          Galopim de Carvalho