domingo, 28 de julho de 2013

O LEGADO DO CONDE FERREIRA - 10



António Roxo na sua Monografia de Castelo Branco, em 1890 faz-lhe uma referência, não contextualizada, sem fundamentação, na página 60, que aponta uma crítica à localização, nos seguintes termos: “Foi este edifício feito com o fim de servir de liceu, mas  a posição mal escolhida e as poucas proporções do edifício para tal fim vieram em breve tempo provar que isto era uma utopia. O edifício, sendo pequeno para liceu, é grande de mais para duas escolas. Principiaram as obras em 1867, havendo-se gasto a quantia de 5:438$910 réis, despesa que mais significa um desperdício do que um acto de boa administração municipal”.
Sem querer entrar em polémica metodológica e na discordância da informação, não deixarei de estranhar a falta de referência ao destino do testamento do legado do Conde Ferreira, que exigia como condição imprescindível a utilização exclusiva do edifício como escola do ensino primário e popular e nunca admitindo nele a instalação do ensino liceal destinado a um grau mais elevado e por isso acessível somente a candidatos com maior poder económico.
Por outro lado parece justa a crítica quanto à topografia da cidade e à sua inacessibilidade ao castelo, a parte mais elevada da cidade. Sabemos por experiência como se foi processando o crescimento da cidade ocupando gradualmente a encosta e evoluindo para o sopé circundante.
De facto não foi feliz a escolha para localização da primeira escola primária da cidade, que terá provavelmente sido utilizada durante algum tempo para a finalidade inicial, mas com pequena duração. A Escola Normal, designada Escola de Habilitação para o Magistério Primário foi instalada neste edifício construído com o legado do Conde Ferreira contra a vontade de alunos, professores e empregados. Assim que surgiu uma alternativa, deu-se a mudança para a zona baixa da cidade. Disso nos dá conta uma notícia do semanário Notícias da Beira , que é do seguinte teor:
“ A escola de ensino normal funciona, desde o dia 2 do corrente, no antigo edifício do paço episcopal, onde, por determinação do Governo da República, foi instalada, bem como o liceu central desta cidade.
É um melhoramento importante porque a antiga instalação da Escola do Castelo tornava-se inconveniente pelo difícil acesso e distância do centro da cidade”.


                                             Francisco Goulão