domingo, 5 de maio de 2013

O LEGADO DO CONDE FERREIRA - 1



           O CONDE FERREIRA E O SEU INTERESSE PELAS CAUSAS SOCIAIS 
      
Sendo incontornável a figura deste ilustre duriense, nascido em Vila Meã, Porto, em 1782 e falecido na cidade do Porto em 24 de Março de 1866, importa que se faça uma referência ajustada à grandeza do seu carácter e da sua obra. E porquê a importância e a justificação desta abordagem? Eis o tema que nos guiará durante as próximas intervenções.
Joaquim Ferreira dos Santos nasceu no lugar de Vila Meã, actual lugar de Azevedo, na freguesia de Campanhã, arredores do Porto. Foi o quinto e último filho de João Ferreira dos Santos e de Ana Martins da Luz, um casal de lavradores proprietários pouco abastados com terras em Campanhã, então ainda uma típica freguesia rural do noroeste português.
Como era norma ao tempo, o casal destinava ao filho mais velho a gestão do património agrícola, pelo que os restantes irmãos teriam que encontrar outros meios de vida.
O segundo irmão seguiu o sacerdócio, destino que também pretendiam para o filho mais novo. Com esse objectivo o jovem Joaquim Ferreira dos Santos estudou latim, lógica e retórica, mas concluindo que não tinha vocação para o sacerdócio, abandonou os estudos aos 14 anos de idade, empregando-se como caixeiro e manifestando vontade de ir para o Brasil e seguir a carreira comercial. Os conhecimentos que adquirira viriam a ser úteis, mais tarde, na sua carreira comercial.
Depois de um curto período como caixeiro no Porto, contrariando os pais, emigrou para o Brasil em 1800, levando consigo carta de recomendação dirigida a um parente que se encontrava estabelecido como comerciante no Rio de Janeiro. No Brasil, ajudado e protegido pelo seu parente, foi prosperando no negócio, dedicando-se ao comércio por consignação de produtos enviados do Porto.
Emigrou, posteriormente, para África, tornando-se um próspero e abastado comerciante. Não tendo parentes próximos de herança imediata e legal, resolveu doar toda a sua fortuna, aplicando-a em melhoramentos culturais de benefício social a reverter para os mais desfavorecidos de todo o País, uma vez que o seu testamento não fez reservas à localização das instituições a criar com o impulso da doação.
Eis os termos exactos em que fez redigir a sua última vontade:
Convencido de que a Instrução Pública é um elemento essencial para o bem da sociedade, quero que meus testamenteiros mandem construir e mobilar cento e vinte casas para escolas primárias de ambos os sexos nas terras que forem cabeças de concelho, sendo todas por uma mesma planta e com acomodação para vivenda do professor, não excedendo o custo de cada casa 1:200$000 réis, e, pronta que esteja cada casa será a mesma entregue à Junta de Paróquia em que for construída, mas não mandarão construir mais de duas casas em cada cabeça de concelho e preferirão aquelas terras que bem entenderem.
Com esta deliberação dava-se início a uma interessante iniciativa favorável à incipiente causa do ensino popular, destinada a favorecer os mais carenciados.


                              Francisco Goulão