sábado, 9 de fevereiro de 2013

O ENSINO MÚTUO III



Voltemos ainda a abordar a temática do ensino mútuo, ainda que seja apenas no sentido informativo, na expectativa de apenas lembrar as dificuldades sentidas pelos nossos antepassados quando necessitavam adquirir instrumentos e ferramentas culturais..
Estas escolas, a que Cândido Xavier se refere, foram criadas por provisão da Junta de Governadores do Reino de Portugal, na forçada ausência da Família Real no Brasil, publicada em 10 de Outubro de 1815. Todos os anos se apresentavam com a solenidade requerida os relatórios da actividade desenvolvida nestas escolas. Faremos referência especial aos dos anos de 1821 e 1822.
O de 1822 salienta as vantagens da utilização do ensino mútuo nas escolas militares, cujos benefícios eram extensíveis também à população civil, designada “paisana” em linguagem castrense: “...Igual aceitação que os habitantes das terras, quarteis habituais dos corpos do Exército, mostram de dia a dia a este benefício, que Vossa Majestade lhes outorgou por efeito da Sua Real Munificência (..) bem se deixa ver pela espontânea entrega de seus próprios filhos às Escolas Militares: em todas elas se vêm (sic) homens e crianças; e não raras vezes os mesmos pais aprendendo de seus filhos a instrução elementar!”
Aquela célebre antipatia, que outrora se observava entre os militares e paisanos, vai desaparecendo com rapidez. As Escolas civis nas terras onde se acham as militares estão quase desertas, e não poucas têm ficado sem discípulos. Os esforços de alguns mestres para desacreditarem as Escolas militares frustraram-se de todo; porque os povos obram mais por imitação que por discurso. A feliz ideia de se colocarem as cartas de leitura em cartões expostos à vista de muitos discípulos imortalizará sem dúvida os nomes de Bell e Lancaster; contudo, foi preciso dizer aos estrangeiros que o método de ensino mútuo, de que tanto se falava em todos os periódicos, não era desconhecido entre nós, e que talvez o devamos a essa ilustre Sociedade em cujo grémio brotaram tantas e tão admiráveis obras em todo o género do saber (…)
Primeiro que se estabelecessem Escolas militares pelo Ensino Mútuo em França, na Áustria e Rússia, já Vossa Majestade havia fundado em Lisboa uma Escola Normal para habilitação dos Professores das Escolas dos Corpos do seu Valoroso Exército. Foi pela primeira vez que entre nós, e pode ser em toda a Europa, se viu formar professores, não só para ensinarem com seus preceitos, mas ainda e mui principalmente edificarem com seus exemplos: Potens in opera et sermone.  (S. Lucas).

                             Francisco Goulão