O Lobo Mau é uma personagem que foi criada há cerca de três séculos e
que, ainda hoje, continua bem actual no mundo da literatura infantil, conforme
foi comprovado na Exposição do Livro e da Imprensa Juvenil, em Dezembro passado, em Paris. Nesta, foram apresentados os
resultados de um inquérito e verificou-se que, numa selecção de 2 400 livros
para crianças em que entram animais, o lobo ocupa o 1º lugar de entre 20, com
367 aparições, relegando para 2º lugar o cão.
Uma das histórias mais comuns em que o lobo é figura importante é a do Capuchinho Vermelho, cabendo-lhe, como quase sempre acontece com as restantes histórias, o
papel estereotipado de um predador cruel.
Muitas são as versões do Capuchinho Vermelho: nalgumas, o lobo come o
Capuchinho e a avozinha; noutras, ele consegue apropriar-se da avozinha e
noutras, ainda, fica-se, apenas, pela representação do papel de mau, não tendo
sido capaz de se alimentar de nenhuma delas. Em todas as variantes da história do
Capuchinho Vermelho ele infunde medo.
Ora, o medo foi um elemento fundamental na educação. Quais das pessoas
mais velhas não recordam o sentimento despertado pela famigerada régua, o
instrumento auxiliar para alguns professores ensinarem as primeiras letras?! Significa isto
que o medo deverá ser retirado da educação?
Ele é uma emoção natural do ser humano e está ligado à sobrevivência
não só da pessoa como da própria espécie. O medo é um sinal de alarme perante
um perigo, real ou imaginado, que a pessoa sente e, em relação ao qual, toma as
medidas de prevenção que julga adequadas. Nem todos os medos serão razoáveis.
Eles, no entanto, continuam, ainda, a desempenhar um papel de relevo na
educação.
Voltando à história do Capuchinho Vermelho, que lição se poderia
retirar para uma criança dos nossos tempos? Talvez que ela aprendesse a ganhar
o hábito de desconfiar perante o desconhecido.
E para um adolescente que passa muito do seu tempo livre à frente do
ecrã de um computador? Talvez que ele fosse mais prudente em relação àqueles
que não conhece e que numa qualquer rede social se apresentam como a avozinha
da história do Capuchinho Vermelho, sendo, afinal, um dos tais lobos maus que
pela net proliferam!
Mário Freire