Fica-se
reformado quando se atinge o fim da vida profissional e se entra num outro
estádio em que o trabalho, para além do significado que cada um entendeu dar-lhe,
teve também a componente de obrigação.
Nos
tempos que correm, com pessoas a atingirem este fim profissional com uma
esperança de vida crescentemente alargada e com proventos constantemente a
diminuir, algumas delas, mesmo após a aposentação, continuarão a exercer as
actividades que vinham desenvolvendo. Outras, tentarão encontrar outros meios
que complementem a retribuição das suas pensões. Em ambos os casos, a diferença
entre estar no activo e na reforma poderá ser mais de natureza formal do que de
conteúdo.
Porém,
para uma faixa significativa de pessoas, a reforma marca uma mudança radical na
vida. Para além do aspecto simbólico de representar o início da velhice, esta
transição envolve inúmeras mudanças. Para que ela tenha sucesso, é necessário
que as várias mudanças se traduzam num melhor bem-estar físico e psicológico.
Ora,
esta nova fase da vida, com um novo ritmo e um novo tempo, poderá proporcionar um
sentimento de libertação e, simultaneamente, ser uma oportunidade de trilhar
novas vias. Através do estabelecimento de outras metas, envolvendo prioridades
e actividades diferentes, elas são susceptíveis de traduzir um maior investimento
quer pessoal, quer na família, quer na comunidade.
Mas
a reforma também pode acarretar o inverso: constituir-se numa perda, seja de
amigos, de prestígio, de capacidades, de utilidade, em suma, ser um tempo de
sofrimento.
Há,
pois, que dar significado à reforma. O trabalho voluntário junto de
instituições de solidariedade social ou culturais é, talvez, aquele que
proporciona maior satisfação interior. E ele não é incompatível com outras
actividades sejam de lazer, de aprendizagem, de apoio familiar…
Enfim,
não havendo factores limitantes, ser-se apenas reformado é muito pouco quando
há um mundo à nossa volta que nos pode valorizar mas que, ele próprio, necessita
da nossa contribuição para o tornarmos melhor.
Mário Freire