As classificações das escolas com
base nas notas dos exames nacionais do ensino básico e secundário evidenciam
uma relação entre a interioridade, a insularidade, as condições socioeconómicas
dos alunos e as habilitações dos pais.
Outra variável,
igualmente, se destacou naqueles resultados, embora com menor impacto do que as
anteriores: o número de professores do quadro e a sua antiguidade na escola.
Os resultados
obtidos poderiam conduzir a perguntas do tipo: será que uma escola, situada
numa zona do interior, seja do continente ou de uma das ilhas, com alunos
predominantemente oriundos de meios desfavorecidos, está condenada aos maus
resultados? Existe um determinismo que desencoraja e inibe a acção? Ou a escola
encerra em si potencialidades, tendo em conta os seus recursos materiais mas,
principalmente, as suas lideranças e os seus recursos humanos, que a poderiam
fazer acreditar em resultados diferentes daqueles que, em princípio, seriam os
expectáveis?
No semanário Expresso de 13 de Outubro refere-se uma
escola – a Básica e Secundária de Padre António Andrade, em Oleiros, entre
outras, que, situando-se na tal interioridade, com 66% de alunos carenciados,
consegue dar a volta por cima das situações adversas e obtém o lugar 48º, entre
mais de 600 escolas.
Igualmente, é
referida, nos Açores, a Escola Básica e Secundária do Nordeste, onde a
insularidade é manifesta, e se tem assistido a uma progressiva subida da sua
posição no ranking nacional, de tal modo que este ano ocupou o digno 128º
lugar.
Tendo em atenção as
explicações que as direcções das escolas deram para justificar quer os bons
resultados, quer as subidas significativas de posição, poderiam elencar-se
alguns comportamentos favoráveis da escola:
- A proximidade com
os pais. Se os pais não vão à escola, tenta-se que seja esta a procurá-los,
diligenciando para que eles vejam na instituição alguém que pretende ajudar os
filhos.
- Existência de
regras dentro da escola que são para cumprir.
- Participação dos
jovens em projectos variados, dentro da escola (clubes de dança, de artes, de
informática, de ciência…) e fora da escola (de voluntariado junto da
comunidade, visitas de estudo devidamente estruturadas…).
- Trabalho em
grupo, proporcionando ensino mais personalizado.
- Uma cultura de
exigência nos horários, nos prazos, nos trabalhos efectuados, nas matérias a
ensinar e a aprender.
Os maus resultados
não são, necessariamente, um determinismo social. Com trabalho, sabedoria e perseverança
talvez muitos dos obstáculos pudessem ser removidos e o sucesso dos alunos tivesse
lugar.
Mário Freire