segunda-feira, 14 de maio de 2012

O ABANDONO ESCOLAR - 1



                                      Causas e consequências

            O abandono escolar é um dos problemas sociais com que o nosso País se confronta. Até há cerca de dois anos, Portugal situava-se em penúltimo lugar, na U.E. a 27, a par da Espanha, no que se refere à taxa de abandono escolar.
            As consequências do abandono escolar repercutem-se quer a nível individual, quer a nível comunitário. Sob o ponto de vista pessoal, muitos dos jovens, marcados por um baixo auto-conceito, desenvolvem atitudes de insucesso face à escola e ao ensino as quais são susceptíveis de serem extrapoladas para outros campos da suas vidas.
Por outro lado, esse abandono, contribuindo para a continuidade do baixo nível de escolaridade, determina uma deficiente qualificação profissional. Nos dias de hoje, em que o saber constitui a mais-valia do desenvolvimento de um país, é a qualificação profissional o factor que maiores possibilidades proporciona para a aquisição de um emprego.
Ora, o abandono escolar é o resultado de um processo que não é apenas individual. Ele implica-se não só com o aluno, mas também com a família e com a escola. Ele tem a ver com as dificuldades de aprendizagem que, manifestando-se logo nos primeiros anos de escolaridade, se vão acentuando nos anos subsequentes. Mas muitas destas dificuldades têm origem na família.
A família dos nossos dias mudou muito, quando comparada com a que existia há 15 ou 20 anos. Em muitas das famílias de hoje os filhos ou vivem só com o pai, ou só com a mãe, ou com os avós ou em coabitação com outros, filhos de pessoas com quem cada um dos pais, posteriormente, se ligou, após separação. Em muitas destas situações as crianças e os jovens foram testemunhas activas e, por vezes, peças centrais nas disputas entre os pais.
A situação económica desfavorável e o desemprego são factores, igualmente, geradores de carências de vária ordem e de conflito no seio familiar.
A violência, física e psicológica, dentro de casa; a falta de tempo dos pais; a falta de diálogo entre pais e filhos, a ausência de regras e do estabelecimento de limites em relação aos filhos, enfim, um sem número de circunstâncias podem, de igual modo, contribuir para que a criança ou o adolescente encontrem fora de casa aquilo que o lar lhes está a negar: a amizade, o diálogo e a aceitação. Outras vezes é o isolamento, a ansiedade e a depressão que vão tomando conta deles.
Múltiplas podem ser as circunstâncias e as instituições que contribuem para que o aluno não se empenhe no estudo e não crie expectativas positivas a respeito de si próprio. A família é, sem dúvida, uma das mais importantes.
Combater o desinteresse pelo estudo, o insucesso escolar e o abandono da escola é contribuir para a valorização do País. Assumir esses desígnios pertence ao Estado mas, também, a toda a comunidade.

                                                                              Mário Freire