quarta-feira, 16 de maio de 2012

DA EDUCOLOGIA À INSTRUÇÃO - 7


                           Obstáculos a transformar (Continuação)

Não raro, no processo educativo, se tropeça em obstáculos que importa eliminar ou, melhor dito, transformar, de molde a pôr, como fulcro da instrução, o potencial existente. Para tal importa, antes de mais, fazer o seu reconhecimento, sendo de destacar os seguintes, para além dos já referidos:
Exploração – Na prevalência do ter sobre o ser, o negócio tende a fazer das necessidades de outrem e do trabalho alheio uma oportunidade de usura. Variadas são as formas de exploração infligidas contra a dignidade humana e lesivas da justiça. Na defesa destes valores, há que descobrir a essência do ser não só no explorado, mas também no explorador prisioneiro do erro e carecido de transformação. 
Falsidade – Fácil é conceber objectivamente a oposição entre o absolutamente verdadeiro e o totalmente falso. No domínio subjectivo, contam o papel da vontade conjugada ou não com o amor relativamente à verdade. De permeio, pode haver lugar quer para o equívoco, para a ambiguidade e para o erro, enquanto elementos acidentais, quer para o logro intencional expresso na mentira, na duplicidade e na fraude. Em psicossíntese, é usual fazer a distinção usando os termos “falso eu”, a nível da personalidade, e “Eu verdadeiro”, a nível transpessoal espiritual. É de notar que, neste caso, não é questão de opostos, mas sim de níveis de tomada de consciência e de contraste nas opções. Sem que se baseie em verdades dogmáticas, a abordagem psicossintética promove a convicção e comportamento fundamentados na concepção ontológica e vivência do bom, belo e verdadeiro.
Julgamento – A propensão para o julgamento é um obstáculo comum. Assagioli oferece a este propósito a seguinte consideração: “’Perdemos tanto tempo e energia a julgar os outros que muitas vezes não damos um passo em frente no sentido de nos examinarmos a nós próprios relativamente ao objectivo de uma boa conduta.” A tendência para condenar outrem cria a ilusão da nossa própria inocência. Carl Jung vê na busca de um bode expiatório a tentativa de “alivio para a própria consciência.” Fácil é escorregar da acusação para a condenação. No preceito cristão de não julgar stá implícita a boa vontade, aliada esta ao discernimento espiritual, a nível do Eu transpessoal que fomenta a solidariedade baseada no amor incondicional.
Perfeccionismo  - Assagioli identifica este obstáculo “não como um sintoma nevrótico, mas sim como um nobre exagero.” Resulta esta observação da fuga a um optimismo utópico, tendo em conta o facto de que  individualmente “todos nós temos defeitos e ninguém é perfeito.”  Sendo de constatar igualmente que vivemos “num universo imperfeito, sobre um planeta imperfeito, numa humanidade imperfeita.”  Não obstante, há que ter em conta o facto de considerar, no perfeccionismo, o defeito provindo do excesso de uma qualidade. Este exagero acaba, paradoxalmente, por minar a auto-estima e incapacitar-nos de tirar partido dos limites e das provações.
Pessimismo – Este obstáculo representa uma poluição psíquica correspondente à visão proveniente do uso de um par de óculos escuros. A partir do uso que deles faz, o pessimista aposta sinceramente no realismo da sua visão. Lógico na sua conclusão, não se apercebe de que partiu de premissas erradas. Como já referido, a psicossíntese fomenta o optimismo radicado num núcleo espiritual a ter em conta tanto na educação como na reeducação. Neste se conjugam a força da vontade com a benevolência do amor.

Como anteriormente ficou explícito, há que descobrir as qualidades dos nossos defeitos, vendo nestes um potencial carecido de boa utilização mediante a integração adequada do seu potencial energético. Neste sentido, virão a ser considerados diversos princípios em que assenta a sua expressão.

                                              João d’Alcor