sábado, 5 de novembro de 2011

ALMEIDA FIRMINO - 1


                                         Um poeta a redescobrir

Quem é Almeida Firmino? Talvez se lembrem dele os seus antigos colegas do Liceu de Portalegre, nos já longínquos anos 50 do século passado ou aqueles poucos que, nas ilhas do Pico e da Terceira, ainda existem e que com ele conviveram ou (quem sabe?) um ou outro poeta ou amante de poesia!
            Ele levava-me três anos de idade e, naqueles anos de adolescência passados no Liceu, essa diferença implica interesses e companheiros diferentes. Tal não significava que nos fôssemos indiferentes. Foi em Angra do Heroísmo, contudo, onde iniciei a minha vida profissional, que tive ocasião de falar com ele mais frequentemente. Guardo, ainda, quase religiosamente, o seu livro “Saudade Dividida” com a dedicatória “com a Amizade sincera do Amigo de Sempre”.
            É esta expressão “amigo de sempre” que me leva a fazer-lhe, agora que acabei de revisitar a Ilha Terceira, uma homenagem simples ao Poeta e ao Amigo. E essa homenagem compara-se, um pouco, a um lamento por os seus livros já não estarem presentes nas prateleiras da livraria mais importante de Angra; por o seu nome se ter tornado quase desconhecido entre pessoas que, talvez, devessem saber da existência de um poeta que, originário de Portalegre, se soube “açorianizar” e cantar as ilhas por onde a sorte o levou.
            É certo que o Município de São Roque do Pico instituiu um prémio literário, de periodicidade bienal, com o seu nome, a partir de 1994.
            Também a Secretaria Regional da Educação e Cultura dos Açores reuniu toda a obra poética de Almeida Firmino e publicou-a em livro sob o título de “Narcose”.
Iniciativas meritórias! Mas o poeta tem que vir para o meio da cidade e suscitar o confronto daqueles que quotidianamente a cruzam; ele merece ser conhecido pelas pessoas que a habitam. Numa pesquisa breve que fiz, não identifiquei quaisquer ruas, avenidas ou becos com o seu nome nas ilhas onde ele viveu. De igual modo, não encontrei um busto ou uma simples placa que mencionasse o nome do poeta num local que a ele estivesse ligado. Oxalá me tenha enganado!
Já não consigo referir com precisão o teor das nossas conversas de há 50 anos na Ilha Terceira mas retive delas sempre uma certa nostalgia e tristeza. Falávamos dos nossos tempos de liceu e, muito especialmente, do Reis Pereira, aquele professor que, apesar de temido por alguns de nós, seus alunos, havia de deixar marcas em muitos outros, ajudando-os ao longo da vida a compreender melhor o que liam e a escrever melhor o que desejavam. Foi o professor Reis Pereira, na sua forma poética de José Régio, que incentivou o Caldeira Firmino (assim era conhecido entre os colegas) a prosseguir com as suas poesias, dando-lhe ânimo e ensinamentos.
Tentarei no próximo texto sobre este poeta, que incorporou os Açores na sua existência, falar um pouco da sua vida e da sua poesia. 

                                          Mário Freire