quinta-feira, 11 de agosto de 2011

APRENDER A PAZ


       

                         Foi apresentado no passado dia 14 de Maio, em Matosinhos, um documento que, em Junho de 2005, foi dirigido à ONU e intitulado Carta da Paz. Apesar deste documento ter sido difundido, na altura, por mais de 80 países dos cinco continentes, ele, infelizmente, continua pleno de actualidade. Talvez fosse essa a razão que levou os organizadores desta iniciativa a promovê-la e, mais uma vez, chamar a atenção para os graves problemas que decorrem da ausência de paz.
Esta carta enuncia 10 princípios que pretendem ajudar a ultrapassar obstáculos que se colocam no caminho da paz. Eis alguns desses princípios:
-“Nós, os contemporâneos, não temos culpa pelos males ocorridos na História, pela simples razão de que não existíamos. Então, por que devemos ter e alimentar ressentimentos, uns contra os outros, se não temos nenhuma responsabilidade nisso?”
-…”não poderá construir-se a paz global enquanto no seio da sociedade e, inclusive, dentro das famílias, existirem menosprezo para mais da metade dos seus integrantes: mulheres, crianças, idosos e grupos marginalizados…”
Situando-nos, no caminho da educologia, perguntar-se-á: é possível aprender a paz? Ora a escola, apesar de todas as dificuldades que atravessa, constitui um espaço de liberdade e de acolhimento. Ela é, sem dúvida, um local de integração social onde convivem várias etnias, géneros e condições sociais. É ali, na escola, onde os diferentes convivem entre si, que o racismo e a xenofobia são combatidos diariamente. Estes factos são, pois, construtores da paz. Se temos hoje uma sociedade mais aberta, isso deve-se à escola.
            Mas ter uma escola aberta e acolhedora não constitui condição suficiente para construir a paz. O ensino na escola não é, apenas, o ensino das disciplinas. Para além destas existem os recreios, o modo como os professores se relacionam com os alunos, como estes se relacionam entre si e como todos os outros tipos de relacionamentos têm lugar. É nesta miscelânea de conhecimentos e de relacionamentos que pode ter lugar (ou não) a aprendizagem da paz.
            Perguntar-se-á: como é que o conteúdo das disciplinas poderá contribuir para a aprendizagem da paz? Ora todo o conhecimento tem sempre a ver com o homem. É ele que o constrói; é ele que o aplica. Mas essa aplicação nem sempre serve para o desenvolvimento da humanidade. Por vezes, esse conhecimento serve para destruir os seus semelhantes e a própria Natureza. Assim, na História, que acontecimentos e que conceitos nela se estudam referentes à guerra e à paz? E como teria sido a História se não tivesse havido guerras?
As disciplinas poderão ser sempre encaradas como contributos do esforço do homem para o desenvolvimento da humanidade e para a construção da paz. É importante que ao aluno seja dada a oportunidade e o incentivo de aprender, através dos comportamentos e atitudes que observa, que a justiça, a tolerância, a promoção dos princípios democráticos e a solidariedade são praticados dentro da escola e que estes valores podem ser, também, por si experimentados. Se assim acontecer, ele estará mais apto a receber e transmitir a grande lição da paz.
                                                                  
                                                                                              Mário Freire