terça-feira, 7 de junho de 2011

SABER-FAZER

                                                      


                                              Saber-fazer

É mais que oportuno o traço de união ligando ambos termos enunciados. Não é apenas a perícia que está em causa, mas também e sobremaneira o gosto que há em saber fazer o bem. O vocábulo saber radica no termo latino sapere que significa saborear. A alegria no trabalho provém do apreço em que é tido, a partir mais do seu significado do que do esforço e tempo dispendidos. Esta alegria é um reflexo patente no olhar e na alma de quem sabe dar sentido e gosta do que faz.  
A mestria evoca a conscientização, uma praxis em que são mutuamente conjugadas reflexão e acção. A reflexão que se limita à teoria e se dispensa da acção torna-se estéril e vazia. A acção desprovida de reflexão gera superficialidade e anarquia. Uma e outra traduzem envolvimento e pedem desprendimento em termos de desidentificação traduzida num sentimento de valorização e desprendimento simultâneos. Vem nesse sentido o parecer de Roberto Assagioli o fundador da psicossíntese: “É necessário que sejamos, até certo ponto, os espectadores das nossas próprias acções.” Esta atitude coloca o ser antes do fazer e não à mercê deste.
A tomada de consciência é aliada à meditação em que há uma experiência de nós mesmos não tanto como instrumentos ao sabor dos acontecimentos, mas sobremodo como autores e senhores da situação em que se saboreia o fruto obtido e repartido. Mu-Men antigo mestre oriental legou a seguinte observação: “A maior parte das pessoas são utilizadas vinte e quatro horas por dia. Quem medita utiliza as vinte e quatro horas de cada dia.” A meditação é mediação enquanto traço de união entre o ser e o agir.
A boa acção conjuga-se com a boa maneira de a fazer. O trabalho não nos dispensa da maneira adequada de o conceber. É grande o risco e lamentável a perca de sacrificar a qualidade à quantidade. Na conscientização fecunda o processo de criatividade, faz apelo à perícia e alia o trabalho ao lazer e também o esforço ao prazer, na alegria do vale a pena.
                                                                                           João d’Alcor